Friday, December 28, 2007

Thursday, December 20, 2007

Anjo de Pedra


Poderei tornar-me pedra de gente, estátua humana, ensanguentada por um esquecimento propositado de tudo o que causa dor, mágoa, tristeza...
Conseguirei esculpir asas de ferro, voar em torno de uma existência fechada a horizontes longínquos, encarcerada por vontade própria, mortalha do receio, lápide de um ser feliz...
Poderei ser anjo de pedra, estalado pelo tempo que passa e que se recusa a ser misericordioso, conseguirei ser demónio de um fogo gelado pela contradição, demónio de espírito perdido, errante ser na névoa de um caminho que não leva a lado nenhum, que não tem destino apenas finalidade... andar pelas sombras da vida.
Anjo de pedra, forma de vida inerte de sentir, estatuária de descanso, da dor da alma, de coração apertado...
Angélica personagem de histórias inacabadas pela ausência da necessidade de um terminar, imortalidade da acção, eterno descanso do sufoco sentido tantas e tantas vezes por alguém...
Serei Lúcifer da angústia, venerado por súbditos fiéis, seguidores da fé da tristeza, pela crença de uma lágrima como fonte da vida, então chamados sentimentos, esses fúteis diabretes que me atormentam...
Encontrarei eu esse deus do sorrir ou conseguirei encontrar esse lugar onde poderei repousar e descansar do peso destas asas de ferro, que me elevam, que me esmagam...
Anjo de pedra, para sempre saudoso do instante, para sempre fantasma do crer...
Nesse jardim de pedra e ferro encontrarei o meu descanso, na terra fria aquecerei uma alma sedenta de vida...
Até esse dia serei anjo das horas, voarei pela liberdade do sonho, gritarei pela busca dessa metade perdida algures, abandonado no portal da humanidade...
Anjo de pedra, alma de sangue, espírito de vida.
Até esse dia suportarei o peso deste ferro que me sustenta, suportarei o lento rachar desta pedra que me dá forma...
Até que adormeça no tempo, nesse túmulo intemporal serei para sempre Anjo de mim, presságio desconhecido, fé na imensa maravilha que me concederam... poder viver.
Serei Anjo de Pedra até que esta se funda com a sintonia da existência.

Wednesday, December 19, 2007

Sintonia


Sintonia...
Olhares sobrepostos pelo partilhar do impensável, pela pureza de um querer algo, substancial, concretizado na capacidade de um sorriso, na vitralidade de um olhar, reflexo da esperança, consciência da musicalidade de uma sintonia...
Invadido sem permissão, enfraquecido por cair na armadilha do destino, no traiçoeiro caminho do desconhecido. Posso voltar atrás agora, daqui a pouco, amanhã... mas não quero, quero correr...
Nas minhas noites apareceu uma nova estrela, brilhante, subtil, intensa...
Na aurora das minhas manhãs fui arrebatado pela beleza de tons estranhamente desconhecidos, prateados de acreditar, acobreados de pensar, dourados de sentir...
Nas minhas horas vislumbrei o tempo, que demora a passar, que se recusa a aproximar essa sintonia, que atrasa o apagar da luminosidade do dia.
Caminho firme no precipício da possibilidade, atravesso o pântano da conquista, mergulho em mares do incerto, voo por céus pela mágoa amaldiçoados...
Cair é uma possibilidade, afogar-me um destino, ser fulminado pela crueldade da mágoa uma incerteza...
Terei consciência do caminho ao qual me ofereço?
Não sei... ou quero acreditar que não.
Se posso sorrir, sorrirei, entregar-me-ei a esta sintonia que me abraça, me conforta, me preenche.
Sintonia... angélica presença desse perigoso e demais gracioso sentir.

Friday, December 14, 2007

Simplesmente Eu


Invadido pelo cansaço do pensar, entorpecido por estranhas incertezas, prisioneiro de um corpo dorido pela força da escolha, magoado pela brutalidade da decisão... paro, preciso de descansar...
Sento-me na pedra da reflexão e contemplo o horizonte das sensações.
No reluzente espectáculo de um pôr do sol perco-me, entrego-me à fraqueza do sonho, à fugacidade de um querer que já não reconheço, à contemplação de um percurso apagado pela chuva da contradição.
No vento que me gela o rosto, petrificam sensações que tanto me aqueceram outrora, que me iluminaram qual estrela guia do meu caminho.
Estrela sem rumo.
É neste luar das minhas noites que a vislumbro, que me acompanha, me ensina, me lembra que a perfeição é pedra filosofal, mito de histórias urbanas em que é necessário acreditar, nesse alcançar não por mim, não por alguém...
Não sou perfeito, nem o pretendo, sou apenas um eu, um pouco perdido, um pouco sem rumo.
Na multidão de existências ainda me encontro, na multiplicidade de seres sociais ainda revejo o meu eu, forjado pelos momentos que me construíram, esculpido por mãos que me ampararam, desenhado por instantes que me foram delineando...
Eu sou um alguém, perdido no tempo, achado nas minhas horas.
Por isso sorrio, nem a chuva que agora me escorre no espírito me perturba.
Sinto-me fortalecido, revigorado pelo saber que o meu eu será sempre meu. Que o meu conteúdo permanecerá imutável, será companhia da minha solidão, será reconforto na tristeza, será aplauso no triunfo...
Este sou eu, neste corpo encerro a colecção de artes intemporais, valiosos temperamentos de mim.
Desta pedra me levanto e sigo o meu caminho.
Não receio o incerto, não renego o que me espera. Sei que não serei ingrato com este eu que não me abandona. Serás para sempre irmão, anjo e amigo, serás essa estrela para sempre no meu luar.
Sou como sou, não sei ser de outra maneira. Incertezas, impulsos, dúvidas, receios encontrarei sempre nesta viagem...
Espontaneidade, sinceridade, amizade e fidelidade serão sempre este eu, pronto para um combate sem vitórias, sem derrotas apenas artesão do ser, da alma e do espírito.
Como já o disse sou apenas "Alguém que está de passagem, a todo o momento, em cada lugar... Alguém que procura o lado bom de todas as coisas, que procura, a todo o instante, outros caminhos, outras possibilidades...Alguém como qualquer um."

Thursday, November 29, 2007

Palavras


Palavras...
Vozes de ser, ecos de personalidade, arma e escudo da mente, sussurro de um eu tantas vezes oculto, de um corpo preservado na segurança de um não arriscar, amarras da incerteza, testemunhas dos meus pensamentos...
Com palavras me perco, me entrego à negação do significado, da sua essência...
Pelas palavras me encontro, me descubro, me edifico...
Nas palavras me reconforto, me completo, me permito recomeçar...
Nesta teia de letras procuro uma expressão, uma possibilidade de me dar a conhecer, aos olhos do mundo, às sensações do tempo, beleza de um sol reflectido nas águas de um momento...
Palavras...
Por palavras encontrei um anjo, um ser de asas privado, verdadeiro no pensar, envolvente no sentir...
Será um guardião? Poderei contemplar no espelho do meu significado o seu reflexo?
Interrogações forjadas por um desejo de conhecer o amanhã, pela vontade do querer saber o que me aguarda no meu caminho, nesta história que tanto vagueia no labirinto da minha existência...
Não tenho ilusões, não quero viver num sonho acordado nem doarei ao amanhã a intensidade do viver o meu momento...
Por vezes não encontro palavras para me exprimir porque tenho medo...
Medo de ser injusto com a beleza do instante, medo de diminuir a intensidade de um olhar, medo de corromper a imensidão que me invade...
Palavras...
Murmúrios do coração...

Wednesday, November 28, 2007

Farol


Sinto-me a afogar na angústia dos meus conflitos, em certezas de um incerto pensamento que me atormenta...
Uma bruma de dúvida cerrada roubou-me o meu farol, num mar de sentimentos sinto-me em asfixia, privado do poder pensar, do sentir tudo tão intensamente, do golpe de uma lâmina a rasgar-me a carne, a mente, o espírito...
Sem sangue de vida, sem ar de existência sinto-me adormecer...
Será este um sonho de remorso?
Terei direito a defesa neste julgamento de alma, serei para sempre condenado ao penoso martírio da culpa?
Poderei encontrar de novo essa luz que me guia, esse segredo de um olhar transparente, de um comunicar sem palavras, sem gestos...
Voltará a falar a voz de um coração esmagado pela colisão da circunstância, pela irracionalidade da atitude, pela crueldade do egoísmo?
Poderei apagar os erros da minha história, ou ficarão para sempre como marcas a fogo, consumindo, a pouco e pouco, este meu eu destroçado, perdido, ferido...
Poderei rogar ao tempo o desejo do retrocesso, pedir ao vento que sopre nas páginas do meu livro, no sentido inverso...
Queria correr, voltar atrás, mas estou privado de movimentos, fraco de iniciativa, esgotado por um cansaço causado por um nada fortalecido pela fraqueza que sinto...
Estrela dos meus dias, ajoelho-me a teus pés, suplico-te que não me abandones, que me guies neste meu caminho. Que a cada passo não me fraquejem as pernas, que na esperança de um novo passo possa encontrar forças para um continuar...
Farol de mim, não te extingas, não deixes de brilhar... acredita em mim.
Nessa promeça fincarei o meu acreditar...

Monday, November 19, 2007

Fragrância


Aos sentidos me entrego, a uma viagem de aromas, texturas, paladares, sons e imagens... flashes disparados para a fotografia do ser, para a pintura do ego que se afirma como parte de mim.
Que comece a viagem...
Esvazio a mente, desprendo-me do conteúdo calculado pela intenção do pensar e respiro...
Fecho os olhos e começo a sentir...
Fragrância que me envolve, me hipnotiza, me adormece... Doce aroma de um corpo tranquilo, em repouso, em harmonia, em partilha do instante...
Perfume da sintonia, do eu e tu, odores de uma viagem a destino incerto...
Na música da tua respiração ouço as ondas, ecos distantes dessa voz que me compreende, melodia que me aquece e me sussurra: Estás vivo...
No teu corpo encontro o abrigo, no teu abraço o conforto da existência, o calor que me fortalece, me protege, me compreende...
Nesse beijo, perdido na fugacidade das horas, descubro a razão desta viagem, a inexplicável sensação do querer viver mais uma vez, de adormecer nesse momento para preservar esse sonho, de tornar eterno e sublime essa memória do acontecer...
A esta viagem me entrego, de corpo e alma, à descoberta de um nós como ilha por descobrir, qual terra dos sonhos à espera de ser encontrada por um alguém, por um tu e eu...
Será isto fantasia?
Nã sei... sonho ou realidade... fragrância dos meus sentidos...

Alma


Haverá sempre alma no coração do sonho, haverá sempre brilho no olhar da esperança, haverá sempre beleza na sinceridade de uma atitude...
É nessa certeza que encontro o meu ancoradouro, é nessa presença que aprendo a crescer, que traço o meu rumo...
É com o olhar da alma que te vejo, que te sinto.
É com o acreditar na genuinidade desse pensar que me reflicto, que me construo...
Estranha sensação de querer tocar o horizonte, tão perto, tão longe...
É no fortalecer da confiança que encontro firmeza, no acreditar na simplicidade do momento e na imensidão da sua consequência que esboço um sorriso...
E na fusão desse instante, quando o tempo pára, o mundo se silencia... é ai que me encontro.
Fosse possível imortalizar instantes... para sempre que me inebriasse a tristeza encontrasse alento, recordação de sintonia, de paz, de vida...
Haverá sempre alma, mesmo num corpo vazio, num vácuo de sentimentos, num precipício de sensações...
Haverá sempre alma, mesmo que adormecida pelas contrariedades do querer viver...
Haverá sempre alma... mesmo que perdida no vazio...

Monday, November 5, 2007

Vazio


Entregue a esta condição, pobreza de sonho, riqueza de um nada que me asfixia...
Pesadelo que se desvanece ao adormecer, que me enfrenta ao acordar, que me hipnotiza, conquista, invade...
Anjo de asas cortadas, estrela sem brilho, rosa sem perfume... ser vazio por vontade própria.
Porquê?
Ah... pelas circunstâncias da longevidade da estupidez humana, pela inconsciência premeditada de que de um espelho partido resultam os cacos, mortíferos estilhaços capazes de ferir, cortar, rasgar, sangrar...
Incompreensão de mim, pedaço de ego atingido por uma flecha perdida. Errante no tempo, na hora e no local...
Premonição de um acontecer enevoado de sonho, de um acreditar na diferença do momento, na conquista de um instante de translúcida simplicidade... um sorriso.
Tréguas com a essência, com a pureza do sentir... de mãos dadas com a incredulidade dos actos, das suas consequências...
Vazio de mim... conseguirei criar de novo o meu talismã, forjar a minha energia? Acredito ser possível mas dói, magoa...
Vazio em mim... voltarei a voar? A acreditar na reciprocidade de um permanecer saudável?
Vazio para mim... vitória da futilidade dos dias, da reacção espontânea do ser social.
Vazio é como me sinto...

Monday, June 18, 2007

Marioneta


Pesados olhares, movimentos inertes de consciência...
De olhar fixo no vazio a marioneta contempla, escuta, não fala, grita... Linguagem da dor, da angústia, das horas que passam, tão lentamente...
De compleição curva a marioneta desliza, arrasta-se, reclama, ofende...
Triste condição, boneca em fios suspensa, um entendimento distante, resignada compreensão incompreendida...
Marioneta de triste sorriso na face, outrora tão confiante, tão presente, tão diferente...
Pêndulo suspenso desses fios que a sustentam já tão gastos, emaranhados por nós de uma vida, de um percurso.
Marioneta, agora empurrada por mãos doutrem, por pés artificiais que rodam... auxílio de um metal não precioso que a transporta...
Boneca de trapos vestida, impaciente, desconfiada, descontente.
Mais uma marioneta de colecção... boneco quebrado pelo tempo, porcelana estalada por contrariedades, soldadinho de cor perdida pela intempérie do pensamento. Tantos brinquedos gastos, partidos, por alguns esquecidos...
Todos eles compõem esta colecção, este museu de circunstância.
A marioneta... olho para ela, foge-me uma lágrima...
Apenas mais uma boneca, não esquecida mas sem a graciosidade de outrora, a independência tão querida, os movimentos livres...
Não te faltarão mãos para te manterem de pé querida marioneta, cansadas, tristes, inconformadas mas não te largarão...
És peça desse museu antigo mas ficarás por perto, recordação do passado, marioneta enrugada...
Que estes bonecos brilhem sempre, que a quem proporcionaram tantos bons momentos lembrem que precisam agora que os iluminem, que os protejam, os confortem...
Marionetas, bonecas de trapos, soldadinhos de chumbo, bonecas de porcelana, cavalinhos de pau... Em tempos alegria de criança agora crianças de rugas...

Thursday, May 17, 2007

Murmúrios



Pedra fria em que assentam os meus dias, infindáveis caminhos pelos quais deslizam as rodas do meu impulso...
Linha-férrea de paciência, vagão carregado de um vazio que me consome, ocupado pelo todo que me preenche, pela imensidão de um sentir... Círio que me cega, luz que me acompanha, percurso de vida, escuridão que me encontra...
Crucifixo de mim, fogo gelado de um temperamento convicto, embora instável, desta certeza fortalecida pela consistência do mármore, a preciosidade de uma esmeralda, a falsidade de um para sempre...
Procura de ordem, impulso que me esmaga, certeza de nada saber...
Mergulho no vazio, queda no esquecimento contemplado por olhos cor de nada, envolto pelo eco de um grito ao vento...
Voz de uma palavra, canção de um desespero, murmúrio de uma vaga épica, de um presságio que não acontece...
Frialdade que me gela os ossos, que enfraquece os pilares que sustentam o meu acreditar, abraço de um corpo inerte no tempo, qual sonho esquecido pelo acordar...
Adeus de um erro inequívoco, de um falhar convicto de certeza, de uma culpa sentida de um acreditar fiel. Embriaguez de um veneno desconhecido, sem antídoto, sem o especular de uma esperança...
Manhã aquecida pelo nevoeiro colorido por cor incerta, desenhada por mãos trémulas, tão débeis, tão precisas...
Farol numa noite sem luar, de uma chuva que não molha, de um frio que já não se sente...
Murmúrios perdidos, sussurros desta voz que fala por mim...

Monday, May 7, 2007

Paleta de cores

Com uma paleta na mão preparo-me para pintar... para dar cor a uma tela em branco.
Não sei por onde começar, que cores usar, que formas criar. Fecho os olhos e penso...
Surgem formas indistintas, manchas de cor que se expressam por si próprias. Deixo-me guiar pelos movimentos da minha mão, expressão de alma, confessora de pensamentos, espelho do sentir...
Com azuis, profundos oceanos de recordações, de momentos partilhados na sintonia da simplicidade, da partilha, da amizade...
De negro marcos de tempo, precipícios contornados pela obrigatoriedade de um continuar, pela necessidade de um reencontrar o rumo, o fio condutor...
Com a intensidade de um vermelho, qual rosa que inebria com a sua beleza mas que fere com o seu espinho, dá cor à vontade de viver, de sorrir ao mundo e agradecer pela existência.
Verdes surgem na tela, como paisagens de tempo, histórias gravadas na memória com o peso de um rochedo e a subtileza de uma pena. Histórias em que sou personagem principal, os meus contos, as minhas aventuras, as minhas viagens...
Com amarelos aquece esta pintura, luz que me conduz, que me guia, que me ampara.
Laranja, castanho, cinzento, preto, branco... cores do meu quadro, segredos desta obra de arte que tanto tem de beleza como de valor para mim...
Quadro dos meus dias, em movimento, em mudança... Pintura inconstante, em transformação, sempre...
Tela de branco outrora pintada mostra agora o arco-íris do meu existir...





Friday, April 27, 2007

"No matter how dark the night...
morning always comes..."

Wednesday, March 14, 2007

Simplicidade


Proponho um agradecer às pequenas coisas, aparências insignificantes, intenções desinteressadas, gestos espontâneos, atitudes sinceras...
A estas pequenas manifestações, da ainda existente consciência humana, apelo à sua prosperidade. É tempo de retribuir, de receber e também de dar efémeras visões de que, afinal, as nossas estátuas não são apenas pedra desgastada pelas privações temporais, que o gelo que integra grande parte da nossa existência ainda pode derreter... que até o mais resistente ferro pode ainda ser fundido. Chega de comparações, de idealizações, de sses...
Passarei a valorizar ainda mais aquilo que tenho, o que me rodeia e tudo o que acompanha o meu percurso.
É urgente um (re)acordar, um pestanejar até dissipar a névoa que tem turvado a minha visão. É possível reencontrar a razão do querer que o amanhã aconteça, vislumbrar a luz no fundo do túnel das minhas horas...
Se me foi concedido um dom, um tesouro, uma hipótese não serei ingrato ao ponto de não lhe atribuir o devido valor, de desperdiçar tamanha oportunidade.
Por isso sorrio, fui contemplado e reconheço a responsabilidade de possuir tal bola de cristal, tão bela, tão frágil...
Agradeço à simplicidade desta complicação constante, elogio o meu despertar para esta causa, apelo ao seu desenrolar. Ergo-me para um outro dia, para outra oportunidade, para um outro sobreviver...


Monday, March 12, 2007

Xadrez


Neste xadrez de tempo, qual jogo de possibilidades, somos peões constantes, mudando de rumo e de direcção. Somos manipulados pelas mãos do destino, seguimos diferentes direcções consoante as hipóteses do jogo.
O objectivo?
A vitória, a recompensa.
É por isso que caminho, é essa busca que me fascina, é esse incerto mas tão desejado instante que sustenta o meu fundamento.
Xadrez dos meus dias, jogo sem fim... de possibilidades, de oportunidades, de aprendizagens.
Neste tabuleiro que me desloco encontro tantas surpresas, opostos contraditórios do meu sentir. Contudo aprendo, sempre. O meu eu cresce, fortalece, amadurece. Regras deste jogo que me são impostas, não são opções são consequências...
Mas sei que apesar de peão, apesar de simples peça neste jogo também sou o adversário. Também jogo com o destino, veterano do acontecimento. Também intervenho neste jogar do meu existir, do meu pensar. Sei que, muitas vezes, são inúteis as meras tentativas de me esquivar as suas jogadas, as suas intenções... mas também sei que, por efémeras vezes, triunfo com a minha estratégia.
Xadrez de existência tanto me tens ensinado, tanto me tens mostrado. É tempo de começar um novo jogo, peças alinhadas, olhares desafiadores. Adversários convictos, de olhares atentos é hora de mais um confronto.
Frente a frente estou pronto para começar. Cedo-te a vez, concedo-te as honras. Dai início a mais um jogo, a mais um desafio...
Sei que estou pronto, não receio os teus truques... também tenho os meus.

Monday, March 5, 2007

Pano Negro


Desce o pano negro, mortalha de angústia que se estampa em rostos à procura de resignação.
Mais uma pausa deste silêncio marca o meu caminho, mais uma fita negra é lançada ao vento com destino incerto...
Circunstância, fatalidade, destino... um adormecer dos sentidos, um acordar de realidade.
Não sei para onde vou, desconheço o que me espera mas sei que um dia também deixarei de sentir. É por isso, pelo inevitável desfecho, que preciso viver.
É este perceber da minha impotência, da minha fraqueza neste duelo que é a vida. Combate desleal pois não possuo armas nem defesas...
É nas cinzas da dor que se encontra a centelha de fogo para um renascer, é deste pó que reaparece a Fénix do prosseguir...
É impossível evitar a mudança, o transformar da ambição, o contrariar a vontade da razão.
Não sei o que me espera, neguei o arrependimento, fortaleci a esperança. Destes meus momentos e tormentos resultarão outros olhares, outras máscaras.
Da ampulheta do meu tempo escorrerão outros pensamentos, outras motivações, outros caminhos...

Sunday, March 4, 2007

Quase Perfeitos


Existirão momentos completamente perfeitos? Pedaços de tempo em absoluta sintonia entre o querer e o ter, entre o imaginar e o viver, entre o dar e o receber...
Será este o idealizar da perfeição, um acreditar numa procura sem fim?
Estará algum dia completo o puzzle do meu ser ou faltarão sempre peças perdidas pelos cantos dos dissabores ou pela amnésia desejada de tantos momentos...
Estarão essas peças todas elas encaixadas correctamente? Ou haverá sempre o traiçoeiro engano da aparência ou o conjugar distraído por falsas semelhanças?
Será este meu caminho um labirinto sem saída? Poderei mesmo escolhê-lo ou serei empurrado pelo sopro das circunstâncias?
Descobrirei alguma vez as passagens secretas deste quebra-cabeças, desta ambiguidade conflituosa que sinto?
Momentos perfeitos não existem, pelo menos para mim, qual miragem do deserto dos meus dias.
Momentos quase perfeitos, esses sim, existem com a intensidade do vislumbrar do arco-íris da minha existência, de beleza estonteante, de tranquilidade absoluta, de paz interior, de um levitar emocional...
Momentos... Quase perfeitos...
É neles que me quero concentrar, dedicar a essência que habita o meu corpo e a minha mente. Não quero viver ilusões, não quero tocar as nuvens... Que os meus pés sintam sempre o calor da Terra que os suporta, que o meu rosto sinta o toque da chuva, o beijo do vento...
Quase perfeitos são esses os momentos, serão esses o tic tac que marcará o relógio no meu caminho...

Saturday, March 3, 2007

Memórias


Estou cercado de olhares carregados de sofrimento. Histórias de vida que começam a desmoronar, anciãos das minhas memórias, gente que carrega o pesado fardo da vida e que arrastam a cruz das suas lembranças...
Sinto-me enfraquecer ao ver tamanho desalento, condição humana a que acabamos por ser confiados...
Em cada um desses olhares, dessas rugas de tempo, vejo o vazio e o medo... de um destino incerto, da improbabilidade do acordar, das dores antigas, feridas que não saram com o tempo, pregos espetados no corpo e que a cada movimento provocam o aperto no coração e a dor na alma...
Como é difícil ouvir as vossas vozes cada vez mais longe, como é desumano nada poder fazer...
Já não sou o mesmo e nem voltarei a ser. Mudei a minha máscara, troquei de olhar, obrigação imposta pela vulnerabilidade do acontecer...
A todos vós, a todos esses olhares, por cada uma das lágrimas que não mais conseguem esconder, pela tempestade de sentimentos que vos abriga tende fé, tende esperança por um amanhã, por um bem estar ainda possível...
Farei de cada um dos vossos sorrisos um troféu de orgulho, uma moeda do meu tesouro.
Continuai com confiança, meus companheiros, antepassados do meu acordar...

Friday, March 2, 2007

(In)consequências


Causas e consequências, qual lei da física aplicada à teoria do existir...
Penso, logo existo...
Sinto, logo estou vivo...
Como descrever, com a simplicidade das palavras, tamanha descoberta, o consciencializar da sua veracidade.
Pensar, sentir, viver, verbos que passaram a ser imperativos da gramática do meu ser, do dicionário dos meus significados...
Causas que provocam em mim um estremecer de receio, um abalar de dúvida, um desequilibrar de insegurança.
Consequências que projectam na tela, através da qual assisto ao meu filme, um fortalecer da minha personagem, um enriquecer do meu argumento...
Consequências ou coincidências? Serão estas pólos opostos do meu hemisfério ou pontos de encontro no meu caminho?
Pensar, perceber, procurar a razão... passatempos a que entrego a autonomia dos meus momentos de reflexão, de interiorização dos "porquês" que me absorvem, dos "se nãos" que me consomem, dos "mas" que me atormentam, dos "ses" que me perseguem.
Inconsequências do meu pensar, consequências do meu agir, coincidências que tanto têm esculpido a pedra em que se tornara grande parte de mim.

Visão


Parar no tempo, sentar-me no trono de pedra desta falésia e contemplar...
Observar a paz que me envolve, a beleza que os meus olhos são obrigados a assistir, sentir a quietude do tempo banhada pelo calor do sol que me abriga...
Fechar os olhos, entrar em sintonia com o espaço, deixar a brisa percorrer o meu eu, a minha mente...
Que visão, a que os meus olhos observam, a que a minha consciência se concentra, a que o meu espírito partilha.
Que dom, este a que alguns a vida privou e outros que por inacreditável opção, decidiram fechar os olhos e continuar o seu caminho na escuridão da existência.
Sinto-me hipnotizado por este olhar, por esta visão. Um novo ar chega aos meus pulmões, uma nova energia corre nas minhas veias...
É sublime tal sensação, saber que apesar de tantos tormentos, angústias e momentos consigo encontrar força para me erguer, para continuar este caminho repleto de armadilhas...
A esta visão agradeço, a este momento faço uma vénia de gratidão.
Deste trono me levanto, desta pedra da memória se desprende um outro eu que se despede deste olhar mais tranquilo, mais confiante.
Que os meus olhos nunca se neguem a este olhar, que não desistam desta visão...

Palco

A vida não é mais que um conjunto de momentos num teatro constante em que nós, personagens desta peça, entramos e saímos de cena, sentimos receio de enfrentar os olhares do público, ficamos eufóricos com os aplausos, choramos quando erramos, vamos ganhando confiança nas nossas capacidades à medida que nos habituamos a estar no centro deste palco...
Destes momentos alguns não resistem ao esquecimento outros, pelo contrário, cravam-se na nossa memória como a intensidade de um amanhecer...
No meu palco, na minha história, tu és um desses momentos, um dos aplausos que tão bem me fizeram sentir.
Obrigado pela sinceridade, pela amizade, pela partilha...
Todos temos um caminho, caminhos esses que se encontram e se afastam. Que o teu possa ser paralelo ao meu...
Até já

Wednesday, February 28, 2007

Esperança


Se num mundo do avesso, neste espaço em que deambulamos ainda existem pequenas chamas de esperança, pavios que insistem em continuar a arder então não permitirei que a vela que alumia o meu caminho se apague, não fecharei os olhos, não caminharei no escuro.
Se isso, a que chamam esperança, pode tornar os meus passos mais confiantes, mais seguros, mais tranquilos então será este o meu tesouro, a minha pedra filosofal...
Não é fácil sonhar e ter que acordar, perceber que a minha realidade continua igual, não é fácil querer e não poder, não é fácil viver...
No entanto este tesouro, imaterial mas de inigualável valor, enche-me o espírito de confiança, revela-me que o amanhã pode chegar, que o meu próximo acordar pode ser diferente...
Esperança serás a assinatura das páginas da minha história, serás a minha sombra, serás o meu eco e o meu ar...
Sinto-me levitar... sei que até o impossível se pode aproximar do possível, que os caminhos se invertem, que a esperança existe...
Sinto-me feliz por este meu sonhar, por esta força que me anima... Sei que parte de mim continuará carregada de sombra mas não me é possível controlar o destino... Mas com este tesouro que redescobri, sombra e claridade, medo e confiança, angústia e felicidade passarão a ser envoltas pelo reluzir deste meu tesouro, desta luz no fundo do túnel, deste perfume que envolve os meus sentidos...
Obrigado

Monday, February 26, 2007

Angel


Contradições


Como é possível sermos donos de sentimentos tão contraditórios?
Sentir uma nova esperança, uma janela que se abre e da qual posso vislumbrar uma possibilidade, um prosseguir consciente de tantas contrariedades... Um acreditar que, afinal, todos temos um destino, um papel a desempenhar neste ciclo vicioso que é o sentir...
Sentir que estou envolto num nevoeiro de angústia, num manto que absorve as minhas horas.
Um saber que num instante tudo pode acontecer, que a estabilidade é corrompida, que a tristeza me consome por ser obrigado a assistir a um espectáculo real, por ter de observar sofrimentos, angústias, por saber que sou personagem neste palco, nesta peça.
Esperança e angústia, os pesos da balança em que me encontro....
À esperança confio o meu destino, apesar de me concentrar no presente, recusando miragens de um futuro que pode não acontecer, de um tempo que poderei não conhecer...
À angústia dedico o meu pesar, o meu lamento por nada me ser permitido fazer para o contornar... Confiarei a minha essência, aprenderei um outro olhar.
Contradições, se pensar bem, estão sempre presentes. Envolvem-me há muito e, de certo, permanecerão presentes no meu caminho...
Serão estas as causas do meu equilíbrio? Serão elas o sustento do ying yang tão procurado?
Quem me dera ter respostas para tudo...

Saturday, February 24, 2007

Vulto


Palavras para quê quando uma imagem pode suportar tanto...

Grito


Grito de voz rouca, esse através do qual me exprimo. Frases sonoras que escorrem da minha mente e que tantas vezes resultam em silêncio... Ecos de tempo, qual ampulheta quebrada pela intensidade de tais palavras.
Grito por mim, por ti e por tudo que nos envolve.
Chamo por significados vazios que teimam em seguir ao sabor do vento, que não ganham forma, que não encontram expressão...
Grito pela vida, grito por tudo o que está errado, por tudo o que não deveria ser assim...
E desespero... Perco a voz, perco o sentido por tanto gritar e não me fazer ouvir.
Um grito, um silêncio... Serão assim tão ambíguas e contraditórias designações?
Não creio, se nada mais são do que formas de expressar a minha alegria e a minha revolta, se se tratam apenas de fins e não de finalidades...
Grito e gritarei... não serei cúmplice de resignações, não compactuarei com injustiças, não abafarei consequências nem permitirei o esquecimento de causas...
Que o eco do meu grito se faça ouvir, que o conteúdo das minhas palavras possa chegar ao âmago do pensamento, da consciência, da vontade...
Que este grito vazio de som me faça orgulhar da dádiva do ser compreendido.

The Rasmus - In The Shadows

HIM - Join me in Death

Friday, February 23, 2007

Arrependimento


Porquê?
Porque uma palavra tão banal à escrita poder carregar tanto significado? Valerá a pena uma intempérie de sensações por tal substantivo? Dúvidas que me perseguem, receios que o meu próprio medo tende desvendar....
Arrependimento, arrepender, duvidar do que sinto.... é demasiado pesado este fardo a que me sujeito mas do qual não prescindo.
Ter medo, ter receio há muito que fazem parte do vocabulário do meu subsistir, é tempo de arriscar... É tempo de dedicar os momentos que me são concedidos a avaliar o sustento desta palavra, do globo de significados que um simples dizer pode abalar o meu permanecer...
Arrepender será um vocábulo que pretendo eliminar do dicionário do meu acreditar, do meu sentir e do meu sonhar. Luto por isso, com todas as forças que o meu singelo crer me permite mas ao qual ainda não consigo dedicar devota convicção...
Arrepender ainda é fiel companheiro, qual reflexo de espelho, através do qual me contemplo todos os dias, arrepender ainda é siamês da minha consciência, ainda é ego da força que brinca contra a minha vontade...
Arrepender é perceber que não dei voz ao grito que quer explodir, à abominável presença de espírito que me aconchega, à gélida sensação que me consome o privilégio do sentir...
Chega! Não falarei mais por ti, não ouvirei mais os teus lamentos, fracos de sustento, vazios de acreditar. Não quero mais ser hipnotizado por significados de fraqueza, de tristeza, de inferioridade...
Arrependimento, fiel amigo de longa data, é tempo de te sepultar, de te deixar uma rosa negra como símbolo do meu sentir, dos tempos em que recebeste o refúgio da minha fraqueza.
Uma lágrima deposito na tua sepultura, um sorriso dedico à liberdade que me invade, à força que me envolve, a este adeus marcado pelo fogo do meu querer...

Thursday, February 22, 2007

Christina Aguilera - Hurt

Silêncio


É no silêncio da noite que procuro encontrar a razão... que procuro os porquês, que procuro nos recantos vazios do castelo em que habita o meu ser.
Razões, porquês, respostas, dúvidas, receios... são tantas as pedras em que tropeço na minha procura, são tantos os becos sem saída com que me deparo neste meu labirinto.
É no calor do escuro, no sussurro do tempo que procuro reflectir, encontrar essa razão que tanto procuro e não encontro.
Melancolia? sim pode ser... Saudade? também... Medo? a todo o instante... Angústia? de não ter tempo para viver, para aproveitar todos os momentos... Insegurança? faz parte de mim... Ausência? ....
Razão estranha essa que me faz despertar de sonhos perturbados, condição a que me entrego por tão vivo me fazer sentir.
É no silêncio da noite que escuto a voz dos meus pensamentos, que me permito desmoronar, qual torre milenar... É no caos da queda que encontro as peças para me reconstruir, mais sólido. É no turbilhão da confusão que proponho um acordar, um novo despertar, um outro dia se aproxima, uma nova esperança, uma nova possibilidade...
É no silêncio da noite que me conheço, que apago e redesenho o esboço da minha figura, do meu eu.
É neste silêncio que me encontro, é neste jogo sem adversário que resisto, é neste dilema eterno o qual me nego a abandonar.
É no silêncio da noite que aprendo a crescer...

Evanescence - Call Me When You're Sober

Wednesday, February 21, 2007

A ti


A ti que neste momento dormes, que descansas o peso de todos estes anos, que sofres com a tua dor e com o sofrimento dos outros.
A ti que sempre me acompanhaste, que sempre estiveste presente, que me deste a mão, o carinho, a sabedoria da simplicidade...
A ti que agora embarcas para um destino incerto, para um existir sombrio, para uma ponte sem protecções. Estreita ponte na qual podes prosseguir ou cair a qualquer instante, qual pena lançada ao vento.
Acredita que estarás sempre presente, que a tua marca estará em todas as páginas do livro da minha história. Recordarei para sempre a tua presença....
Não se trata de um adeus, não se trata de uma despedida apenas de mais uma página virada... Uma folha em branco onde a qualquer instante pode cair uma gota de tinta que se transformará num borrão... Mas até lá, inevitável momento, ocuparei o meu tempo com confiança desejando que ainda possas continuar o teu caminho ao longo da estreita ponte...
Para ti, com um beijo meu

Máscaras


É tempo de pôr a máscara, de sermos quem não somos, de sermos o que não somos...
É tempo de revelar outras facetas, outras caras, outras atitudes.
É tempo de brincar, de festejar, de mostrar aos outros uma outra versão.
Será mesmo assim?
Será mesmo o tempo de tudo isto?
Ou será então este o tempo, o momento, o instante de mostrarmos realmente quem somos, o que sentimos. A altura ideal para podermos gritar que em nós existe algo, uma sombra apagada pelo peso dos dias, um existir excomungado pela resignação.
Porquê não dar voz a essas profundezas de viva, porquê continuar a negar que podemos evoluir, que podemos crescer, que podemos mudar de direcção. Porquê acomodarmo-nos com o igual, com o sem novidades, sem diferenças.
Todos temos um caminho contudo podemos escolher qual a esquina em que queremos virar, onde queremos fazer paragens ou por onde queremos passar a correr.
Eu sei que me mascaro todos os dias, sei que uso máscaras diferentes consoante os momentos. No entanto essas máscaras não apagam o meu eu, não escondem a minha essência, apenas me mostram através de diferentes olhares...

Sunday, February 18, 2007

Olhares


Estou viciado nas drogas da existência... Sinto-me dependente, consumido por um deambular de sensações que insistem em complementar o meu eu.
Sinto-me enclausurado na esfera que me sustenta, na armadura que construí para viver e sobreviver. O porquê desta necessidade nem eu o compreendo, são as causas da partilha, da existência dos que cruzam o meu caminho, da constante presença de outros olhares, outros conflitos, outros como eu.
Tento libertar-me, depurar-me do ópio que me consome, da força que me esmaga e me empurra na direcção do abismo. Por vezes as minhas forças esgotam-se e deixo-me ir, arrastado pela inconformidade dos dias, das horas e dos segundos.
Sou fraco, tenho consciência... Mas tento, a todo o instante, lutar, cortar as amarras que prendem o meu existir, a minha presença e o meu ser.
Nesta luta constante é fulcral o saber que nesses olhares também encontro brilho, encontro apoio, encontro coragem. Nesses olhares que cruzam o meu caminho e que se dispõem a acompanhá-lo. Esses olhares, esses reflexos de confiança fortalecem-me, confortam-me e ensinam-me. A esses olhares agradeço, todos os dias, porque num amanhã poderão deixar de lá estar. Esses olhares também têm um caminho que num certo cruzamento da vida poderão vislumbrar horizontes diferentes.
Apesar dos trilhos de cada um, sei que a cada um desses olhares agradecerei com um sorriso, com uma lágrima ou com um adeus.
Nesses olhares encontro sustento para o meu caminho, nesses espelhos de ser, encontro a força que preciso para continuar a lutar, para continuar a acreditar no amanhã...

Tormentos


Porque não mandamos nos intentos, porque não comandamos sentimentos, porque não controlamos momentos, porque não somos donos de nada a não ser do pouco da essência que nos consome...
Porque não podemos ter o que queremos, porque não alcançamos o elixir do nosso caminho, qual pedra filosofal de memória, dos tempos e dos bons momentos que passámos juntos.
Porque pensar que contigo seria tudo de tal maneira sublime, natural partilha e sintonia, que contigo, não tenho dúvida, encontraria a plenitude do viver...
O pensar no existir tão perto e tão longe de ti, o acordar do sonho da tua presença, o consciencializar de que tudo foi um sonho, uma miragem, um desejo...
O acreditar que, mesmo por breves instantes, partilhámos um olhar, um pensar, um sentir.
O saber que não te posso ter, não te posso encontrar nem sequer sentir a tua presença.
A dor fria, qual mármore gelado, pedra do túmulo em que sepulto os meus tormentos.

Saturday, February 17, 2007

Tempo


Quanto tempo me resta, quanto tempo ainda tenho, quanto tempo desperdicei, quanto tempo aproveitei...
Não pensar no tempo é não pensar na importância da minha passagem, pensar no tempo é partilhar o tormento da incógnita, do não saber.
Que fazer então se ele não pára, se não há pausas nem foras de tempo.
Quantos momentos, quantos contratempos marcam o meu tempo.
Tento compreendê-lo, acompanhá-lo, dar-lhe as mãos e seguir o seu rumo mas por vezes parece que o meu tempo me foge, que me abandona e não espera por mim. Sinto-me cansado, esgotado preciso parar para descansar, para pensar. Mas ele, o meu tempo não abranda para me apoiar. Sei que não posso deixá-lo fugir, que tenho que o agarrar e deixar-me levar... Mas quantas vezes o saber não é sinónimo do fazer, quantas vezes penso que seria melhor acabar o meu tempo, que seria tão mais fácil...
No entanto cada acordar, com o beijo do tempo, faz-me pensar o quanto é bom ainda ter tempo, incerto, mas ter.

Momentos


Infindáveis acompanhantes, perseguidores, sombras... Cravos de ferro numa memória sempre presente. Esses que partilham a minha vida, o meu sono e os meus sonhos. Esses que tanto me alegram e emocionam, esses que me carregam o espírito de desconforto e desalento. Momentos, linhas do livro da vida, do meu livro, da minha história. Cada palavra, cada suspiro, cada segundo. Consomem o meu ser, o meu ar, a minha essência. Pensamentos... Sentimentos... Sofrimentos... Contentamentos... Lamentos... são tantos, esses a quem chamo momentos.

Encruzilhada

Decidir é sempre complicado, mudar e difícil, continuar necessário. Quando chegamos a uma encruzilhada é preciso fazê-lo, escolher para onde prosseguir e como... São várias as opções todas elas com futuros e presentes diferentes, unidas por um passado comum. O melhor é sentar no centro das divergências e pensar, reflectir. Aprendemos com os erros, é preciso arriscar mas há o receio... que fazer. Pensamentos que voam, sentimentos que escorrem como água qual rio de águas transparentes... Contudo uma enorme força me impulsiona, uma voz me sussurra para prosseguir, para não ter medo. Essa voz é inebriante, envolvente, apaixonante... quase me convence mas o caminho parece estreito e escuro, ainda não encontrei certezas. Mas sinto que preciso ir, descobrir, crescer, aprender, perder, arriscar, sofrer, sorrir... sei que preciso partir. Vou com confiança, levanto-me do centro da encruzilhada e escolho um rumo, fecho os olhos e sigo a minha viagem...