Thursday, November 29, 2007

Palavras


Palavras...
Vozes de ser, ecos de personalidade, arma e escudo da mente, sussurro de um eu tantas vezes oculto, de um corpo preservado na segurança de um não arriscar, amarras da incerteza, testemunhas dos meus pensamentos...
Com palavras me perco, me entrego à negação do significado, da sua essência...
Pelas palavras me encontro, me descubro, me edifico...
Nas palavras me reconforto, me completo, me permito recomeçar...
Nesta teia de letras procuro uma expressão, uma possibilidade de me dar a conhecer, aos olhos do mundo, às sensações do tempo, beleza de um sol reflectido nas águas de um momento...
Palavras...
Por palavras encontrei um anjo, um ser de asas privado, verdadeiro no pensar, envolvente no sentir...
Será um guardião? Poderei contemplar no espelho do meu significado o seu reflexo?
Interrogações forjadas por um desejo de conhecer o amanhã, pela vontade do querer saber o que me aguarda no meu caminho, nesta história que tanto vagueia no labirinto da minha existência...
Não tenho ilusões, não quero viver num sonho acordado nem doarei ao amanhã a intensidade do viver o meu momento...
Por vezes não encontro palavras para me exprimir porque tenho medo...
Medo de ser injusto com a beleza do instante, medo de diminuir a intensidade de um olhar, medo de corromper a imensidão que me invade...
Palavras...
Murmúrios do coração...

Wednesday, November 28, 2007

Farol


Sinto-me a afogar na angústia dos meus conflitos, em certezas de um incerto pensamento que me atormenta...
Uma bruma de dúvida cerrada roubou-me o meu farol, num mar de sentimentos sinto-me em asfixia, privado do poder pensar, do sentir tudo tão intensamente, do golpe de uma lâmina a rasgar-me a carne, a mente, o espírito...
Sem sangue de vida, sem ar de existência sinto-me adormecer...
Será este um sonho de remorso?
Terei direito a defesa neste julgamento de alma, serei para sempre condenado ao penoso martírio da culpa?
Poderei encontrar de novo essa luz que me guia, esse segredo de um olhar transparente, de um comunicar sem palavras, sem gestos...
Voltará a falar a voz de um coração esmagado pela colisão da circunstância, pela irracionalidade da atitude, pela crueldade do egoísmo?
Poderei apagar os erros da minha história, ou ficarão para sempre como marcas a fogo, consumindo, a pouco e pouco, este meu eu destroçado, perdido, ferido...
Poderei rogar ao tempo o desejo do retrocesso, pedir ao vento que sopre nas páginas do meu livro, no sentido inverso...
Queria correr, voltar atrás, mas estou privado de movimentos, fraco de iniciativa, esgotado por um cansaço causado por um nada fortalecido pela fraqueza que sinto...
Estrela dos meus dias, ajoelho-me a teus pés, suplico-te que não me abandones, que me guies neste meu caminho. Que a cada passo não me fraquejem as pernas, que na esperança de um novo passo possa encontrar forças para um continuar...
Farol de mim, não te extingas, não deixes de brilhar... acredita em mim.
Nessa promeça fincarei o meu acreditar...

Monday, November 19, 2007

Fragrância


Aos sentidos me entrego, a uma viagem de aromas, texturas, paladares, sons e imagens... flashes disparados para a fotografia do ser, para a pintura do ego que se afirma como parte de mim.
Que comece a viagem...
Esvazio a mente, desprendo-me do conteúdo calculado pela intenção do pensar e respiro...
Fecho os olhos e começo a sentir...
Fragrância que me envolve, me hipnotiza, me adormece... Doce aroma de um corpo tranquilo, em repouso, em harmonia, em partilha do instante...
Perfume da sintonia, do eu e tu, odores de uma viagem a destino incerto...
Na música da tua respiração ouço as ondas, ecos distantes dessa voz que me compreende, melodia que me aquece e me sussurra: Estás vivo...
No teu corpo encontro o abrigo, no teu abraço o conforto da existência, o calor que me fortalece, me protege, me compreende...
Nesse beijo, perdido na fugacidade das horas, descubro a razão desta viagem, a inexplicável sensação do querer viver mais uma vez, de adormecer nesse momento para preservar esse sonho, de tornar eterno e sublime essa memória do acontecer...
A esta viagem me entrego, de corpo e alma, à descoberta de um nós como ilha por descobrir, qual terra dos sonhos à espera de ser encontrada por um alguém, por um tu e eu...
Será isto fantasia?
Nã sei... sonho ou realidade... fragrância dos meus sentidos...

Alma


Haverá sempre alma no coração do sonho, haverá sempre brilho no olhar da esperança, haverá sempre beleza na sinceridade de uma atitude...
É nessa certeza que encontro o meu ancoradouro, é nessa presença que aprendo a crescer, que traço o meu rumo...
É com o olhar da alma que te vejo, que te sinto.
É com o acreditar na genuinidade desse pensar que me reflicto, que me construo...
Estranha sensação de querer tocar o horizonte, tão perto, tão longe...
É no fortalecer da confiança que encontro firmeza, no acreditar na simplicidade do momento e na imensidão da sua consequência que esboço um sorriso...
E na fusão desse instante, quando o tempo pára, o mundo se silencia... é ai que me encontro.
Fosse possível imortalizar instantes... para sempre que me inebriasse a tristeza encontrasse alento, recordação de sintonia, de paz, de vida...
Haverá sempre alma, mesmo num corpo vazio, num vácuo de sentimentos, num precipício de sensações...
Haverá sempre alma, mesmo que adormecida pelas contrariedades do querer viver...
Haverá sempre alma... mesmo que perdida no vazio...

Monday, November 5, 2007

Vazio


Entregue a esta condição, pobreza de sonho, riqueza de um nada que me asfixia...
Pesadelo que se desvanece ao adormecer, que me enfrenta ao acordar, que me hipnotiza, conquista, invade...
Anjo de asas cortadas, estrela sem brilho, rosa sem perfume... ser vazio por vontade própria.
Porquê?
Ah... pelas circunstâncias da longevidade da estupidez humana, pela inconsciência premeditada de que de um espelho partido resultam os cacos, mortíferos estilhaços capazes de ferir, cortar, rasgar, sangrar...
Incompreensão de mim, pedaço de ego atingido por uma flecha perdida. Errante no tempo, na hora e no local...
Premonição de um acontecer enevoado de sonho, de um acreditar na diferença do momento, na conquista de um instante de translúcida simplicidade... um sorriso.
Tréguas com a essência, com a pureza do sentir... de mãos dadas com a incredulidade dos actos, das suas consequências...
Vazio de mim... conseguirei criar de novo o meu talismã, forjar a minha energia? Acredito ser possível mas dói, magoa...
Vazio em mim... voltarei a voar? A acreditar na reciprocidade de um permanecer saudável?
Vazio para mim... vitória da futilidade dos dias, da reacção espontânea do ser social.
Vazio é como me sinto...