Friday, December 28, 2007

Thursday, December 20, 2007

Anjo de Pedra


Poderei tornar-me pedra de gente, estátua humana, ensanguentada por um esquecimento propositado de tudo o que causa dor, mágoa, tristeza...
Conseguirei esculpir asas de ferro, voar em torno de uma existência fechada a horizontes longínquos, encarcerada por vontade própria, mortalha do receio, lápide de um ser feliz...
Poderei ser anjo de pedra, estalado pelo tempo que passa e que se recusa a ser misericordioso, conseguirei ser demónio de um fogo gelado pela contradição, demónio de espírito perdido, errante ser na névoa de um caminho que não leva a lado nenhum, que não tem destino apenas finalidade... andar pelas sombras da vida.
Anjo de pedra, forma de vida inerte de sentir, estatuária de descanso, da dor da alma, de coração apertado...
Angélica personagem de histórias inacabadas pela ausência da necessidade de um terminar, imortalidade da acção, eterno descanso do sufoco sentido tantas e tantas vezes por alguém...
Serei Lúcifer da angústia, venerado por súbditos fiéis, seguidores da fé da tristeza, pela crença de uma lágrima como fonte da vida, então chamados sentimentos, esses fúteis diabretes que me atormentam...
Encontrarei eu esse deus do sorrir ou conseguirei encontrar esse lugar onde poderei repousar e descansar do peso destas asas de ferro, que me elevam, que me esmagam...
Anjo de pedra, para sempre saudoso do instante, para sempre fantasma do crer...
Nesse jardim de pedra e ferro encontrarei o meu descanso, na terra fria aquecerei uma alma sedenta de vida...
Até esse dia serei anjo das horas, voarei pela liberdade do sonho, gritarei pela busca dessa metade perdida algures, abandonado no portal da humanidade...
Anjo de pedra, alma de sangue, espírito de vida.
Até esse dia suportarei o peso deste ferro que me sustenta, suportarei o lento rachar desta pedra que me dá forma...
Até que adormeça no tempo, nesse túmulo intemporal serei para sempre Anjo de mim, presságio desconhecido, fé na imensa maravilha que me concederam... poder viver.
Serei Anjo de Pedra até que esta se funda com a sintonia da existência.

Wednesday, December 19, 2007

Sintonia


Sintonia...
Olhares sobrepostos pelo partilhar do impensável, pela pureza de um querer algo, substancial, concretizado na capacidade de um sorriso, na vitralidade de um olhar, reflexo da esperança, consciência da musicalidade de uma sintonia...
Invadido sem permissão, enfraquecido por cair na armadilha do destino, no traiçoeiro caminho do desconhecido. Posso voltar atrás agora, daqui a pouco, amanhã... mas não quero, quero correr...
Nas minhas noites apareceu uma nova estrela, brilhante, subtil, intensa...
Na aurora das minhas manhãs fui arrebatado pela beleza de tons estranhamente desconhecidos, prateados de acreditar, acobreados de pensar, dourados de sentir...
Nas minhas horas vislumbrei o tempo, que demora a passar, que se recusa a aproximar essa sintonia, que atrasa o apagar da luminosidade do dia.
Caminho firme no precipício da possibilidade, atravesso o pântano da conquista, mergulho em mares do incerto, voo por céus pela mágoa amaldiçoados...
Cair é uma possibilidade, afogar-me um destino, ser fulminado pela crueldade da mágoa uma incerteza...
Terei consciência do caminho ao qual me ofereço?
Não sei... ou quero acreditar que não.
Se posso sorrir, sorrirei, entregar-me-ei a esta sintonia que me abraça, me conforta, me preenche.
Sintonia... angélica presença desse perigoso e demais gracioso sentir.

Friday, December 14, 2007

Simplesmente Eu


Invadido pelo cansaço do pensar, entorpecido por estranhas incertezas, prisioneiro de um corpo dorido pela força da escolha, magoado pela brutalidade da decisão... paro, preciso de descansar...
Sento-me na pedra da reflexão e contemplo o horizonte das sensações.
No reluzente espectáculo de um pôr do sol perco-me, entrego-me à fraqueza do sonho, à fugacidade de um querer que já não reconheço, à contemplação de um percurso apagado pela chuva da contradição.
No vento que me gela o rosto, petrificam sensações que tanto me aqueceram outrora, que me iluminaram qual estrela guia do meu caminho.
Estrela sem rumo.
É neste luar das minhas noites que a vislumbro, que me acompanha, me ensina, me lembra que a perfeição é pedra filosofal, mito de histórias urbanas em que é necessário acreditar, nesse alcançar não por mim, não por alguém...
Não sou perfeito, nem o pretendo, sou apenas um eu, um pouco perdido, um pouco sem rumo.
Na multidão de existências ainda me encontro, na multiplicidade de seres sociais ainda revejo o meu eu, forjado pelos momentos que me construíram, esculpido por mãos que me ampararam, desenhado por instantes que me foram delineando...
Eu sou um alguém, perdido no tempo, achado nas minhas horas.
Por isso sorrio, nem a chuva que agora me escorre no espírito me perturba.
Sinto-me fortalecido, revigorado pelo saber que o meu eu será sempre meu. Que o meu conteúdo permanecerá imutável, será companhia da minha solidão, será reconforto na tristeza, será aplauso no triunfo...
Este sou eu, neste corpo encerro a colecção de artes intemporais, valiosos temperamentos de mim.
Desta pedra me levanto e sigo o meu caminho.
Não receio o incerto, não renego o que me espera. Sei que não serei ingrato com este eu que não me abandona. Serás para sempre irmão, anjo e amigo, serás essa estrela para sempre no meu luar.
Sou como sou, não sei ser de outra maneira. Incertezas, impulsos, dúvidas, receios encontrarei sempre nesta viagem...
Espontaneidade, sinceridade, amizade e fidelidade serão sempre este eu, pronto para um combate sem vitórias, sem derrotas apenas artesão do ser, da alma e do espírito.
Como já o disse sou apenas "Alguém que está de passagem, a todo o momento, em cada lugar... Alguém que procura o lado bom de todas as coisas, que procura, a todo o instante, outros caminhos, outras possibilidades...Alguém como qualquer um."