Wednesday, March 14, 2007

Simplicidade


Proponho um agradecer às pequenas coisas, aparências insignificantes, intenções desinteressadas, gestos espontâneos, atitudes sinceras...
A estas pequenas manifestações, da ainda existente consciência humana, apelo à sua prosperidade. É tempo de retribuir, de receber e também de dar efémeras visões de que, afinal, as nossas estátuas não são apenas pedra desgastada pelas privações temporais, que o gelo que integra grande parte da nossa existência ainda pode derreter... que até o mais resistente ferro pode ainda ser fundido. Chega de comparações, de idealizações, de sses...
Passarei a valorizar ainda mais aquilo que tenho, o que me rodeia e tudo o que acompanha o meu percurso.
É urgente um (re)acordar, um pestanejar até dissipar a névoa que tem turvado a minha visão. É possível reencontrar a razão do querer que o amanhã aconteça, vislumbrar a luz no fundo do túnel das minhas horas...
Se me foi concedido um dom, um tesouro, uma hipótese não serei ingrato ao ponto de não lhe atribuir o devido valor, de desperdiçar tamanha oportunidade.
Por isso sorrio, fui contemplado e reconheço a responsabilidade de possuir tal bola de cristal, tão bela, tão frágil...
Agradeço à simplicidade desta complicação constante, elogio o meu despertar para esta causa, apelo ao seu desenrolar. Ergo-me para um outro dia, para outra oportunidade, para um outro sobreviver...


Monday, March 12, 2007

Xadrez


Neste xadrez de tempo, qual jogo de possibilidades, somos peões constantes, mudando de rumo e de direcção. Somos manipulados pelas mãos do destino, seguimos diferentes direcções consoante as hipóteses do jogo.
O objectivo?
A vitória, a recompensa.
É por isso que caminho, é essa busca que me fascina, é esse incerto mas tão desejado instante que sustenta o meu fundamento.
Xadrez dos meus dias, jogo sem fim... de possibilidades, de oportunidades, de aprendizagens.
Neste tabuleiro que me desloco encontro tantas surpresas, opostos contraditórios do meu sentir. Contudo aprendo, sempre. O meu eu cresce, fortalece, amadurece. Regras deste jogo que me são impostas, não são opções são consequências...
Mas sei que apesar de peão, apesar de simples peça neste jogo também sou o adversário. Também jogo com o destino, veterano do acontecimento. Também intervenho neste jogar do meu existir, do meu pensar. Sei que, muitas vezes, são inúteis as meras tentativas de me esquivar as suas jogadas, as suas intenções... mas também sei que, por efémeras vezes, triunfo com a minha estratégia.
Xadrez de existência tanto me tens ensinado, tanto me tens mostrado. É tempo de começar um novo jogo, peças alinhadas, olhares desafiadores. Adversários convictos, de olhares atentos é hora de mais um confronto.
Frente a frente estou pronto para começar. Cedo-te a vez, concedo-te as honras. Dai início a mais um jogo, a mais um desafio...
Sei que estou pronto, não receio os teus truques... também tenho os meus.

Monday, March 5, 2007

Pano Negro


Desce o pano negro, mortalha de angústia que se estampa em rostos à procura de resignação.
Mais uma pausa deste silêncio marca o meu caminho, mais uma fita negra é lançada ao vento com destino incerto...
Circunstância, fatalidade, destino... um adormecer dos sentidos, um acordar de realidade.
Não sei para onde vou, desconheço o que me espera mas sei que um dia também deixarei de sentir. É por isso, pelo inevitável desfecho, que preciso viver.
É este perceber da minha impotência, da minha fraqueza neste duelo que é a vida. Combate desleal pois não possuo armas nem defesas...
É nas cinzas da dor que se encontra a centelha de fogo para um renascer, é deste pó que reaparece a Fénix do prosseguir...
É impossível evitar a mudança, o transformar da ambição, o contrariar a vontade da razão.
Não sei o que me espera, neguei o arrependimento, fortaleci a esperança. Destes meus momentos e tormentos resultarão outros olhares, outras máscaras.
Da ampulheta do meu tempo escorrerão outros pensamentos, outras motivações, outros caminhos...

Sunday, March 4, 2007

Quase Perfeitos


Existirão momentos completamente perfeitos? Pedaços de tempo em absoluta sintonia entre o querer e o ter, entre o imaginar e o viver, entre o dar e o receber...
Será este o idealizar da perfeição, um acreditar numa procura sem fim?
Estará algum dia completo o puzzle do meu ser ou faltarão sempre peças perdidas pelos cantos dos dissabores ou pela amnésia desejada de tantos momentos...
Estarão essas peças todas elas encaixadas correctamente? Ou haverá sempre o traiçoeiro engano da aparência ou o conjugar distraído por falsas semelhanças?
Será este meu caminho um labirinto sem saída? Poderei mesmo escolhê-lo ou serei empurrado pelo sopro das circunstâncias?
Descobrirei alguma vez as passagens secretas deste quebra-cabeças, desta ambiguidade conflituosa que sinto?
Momentos perfeitos não existem, pelo menos para mim, qual miragem do deserto dos meus dias.
Momentos quase perfeitos, esses sim, existem com a intensidade do vislumbrar do arco-íris da minha existência, de beleza estonteante, de tranquilidade absoluta, de paz interior, de um levitar emocional...
Momentos... Quase perfeitos...
É neles que me quero concentrar, dedicar a essência que habita o meu corpo e a minha mente. Não quero viver ilusões, não quero tocar as nuvens... Que os meus pés sintam sempre o calor da Terra que os suporta, que o meu rosto sinta o toque da chuva, o beijo do vento...
Quase perfeitos são esses os momentos, serão esses o tic tac que marcará o relógio no meu caminho...

Saturday, March 3, 2007

Memórias


Estou cercado de olhares carregados de sofrimento. Histórias de vida que começam a desmoronar, anciãos das minhas memórias, gente que carrega o pesado fardo da vida e que arrastam a cruz das suas lembranças...
Sinto-me enfraquecer ao ver tamanho desalento, condição humana a que acabamos por ser confiados...
Em cada um desses olhares, dessas rugas de tempo, vejo o vazio e o medo... de um destino incerto, da improbabilidade do acordar, das dores antigas, feridas que não saram com o tempo, pregos espetados no corpo e que a cada movimento provocam o aperto no coração e a dor na alma...
Como é difícil ouvir as vossas vozes cada vez mais longe, como é desumano nada poder fazer...
Já não sou o mesmo e nem voltarei a ser. Mudei a minha máscara, troquei de olhar, obrigação imposta pela vulnerabilidade do acontecer...
A todos vós, a todos esses olhares, por cada uma das lágrimas que não mais conseguem esconder, pela tempestade de sentimentos que vos abriga tende fé, tende esperança por um amanhã, por um bem estar ainda possível...
Farei de cada um dos vossos sorrisos um troféu de orgulho, uma moeda do meu tesouro.
Continuai com confiança, meus companheiros, antepassados do meu acordar...

Friday, March 2, 2007

(In)consequências


Causas e consequências, qual lei da física aplicada à teoria do existir...
Penso, logo existo...
Sinto, logo estou vivo...
Como descrever, com a simplicidade das palavras, tamanha descoberta, o consciencializar da sua veracidade.
Pensar, sentir, viver, verbos que passaram a ser imperativos da gramática do meu ser, do dicionário dos meus significados...
Causas que provocam em mim um estremecer de receio, um abalar de dúvida, um desequilibrar de insegurança.
Consequências que projectam na tela, através da qual assisto ao meu filme, um fortalecer da minha personagem, um enriquecer do meu argumento...
Consequências ou coincidências? Serão estas pólos opostos do meu hemisfério ou pontos de encontro no meu caminho?
Pensar, perceber, procurar a razão... passatempos a que entrego a autonomia dos meus momentos de reflexão, de interiorização dos "porquês" que me absorvem, dos "se nãos" que me consomem, dos "mas" que me atormentam, dos "ses" que me perseguem.
Inconsequências do meu pensar, consequências do meu agir, coincidências que tanto têm esculpido a pedra em que se tornara grande parte de mim.

Visão


Parar no tempo, sentar-me no trono de pedra desta falésia e contemplar...
Observar a paz que me envolve, a beleza que os meus olhos são obrigados a assistir, sentir a quietude do tempo banhada pelo calor do sol que me abriga...
Fechar os olhos, entrar em sintonia com o espaço, deixar a brisa percorrer o meu eu, a minha mente...
Que visão, a que os meus olhos observam, a que a minha consciência se concentra, a que o meu espírito partilha.
Que dom, este a que alguns a vida privou e outros que por inacreditável opção, decidiram fechar os olhos e continuar o seu caminho na escuridão da existência.
Sinto-me hipnotizado por este olhar, por esta visão. Um novo ar chega aos meus pulmões, uma nova energia corre nas minhas veias...
É sublime tal sensação, saber que apesar de tantos tormentos, angústias e momentos consigo encontrar força para me erguer, para continuar este caminho repleto de armadilhas...
A esta visão agradeço, a este momento faço uma vénia de gratidão.
Deste trono me levanto, desta pedra da memória se desprende um outro eu que se despede deste olhar mais tranquilo, mais confiante.
Que os meus olhos nunca se neguem a este olhar, que não desistam desta visão...

Palco

A vida não é mais que um conjunto de momentos num teatro constante em que nós, personagens desta peça, entramos e saímos de cena, sentimos receio de enfrentar os olhares do público, ficamos eufóricos com os aplausos, choramos quando erramos, vamos ganhando confiança nas nossas capacidades à medida que nos habituamos a estar no centro deste palco...
Destes momentos alguns não resistem ao esquecimento outros, pelo contrário, cravam-se na nossa memória como a intensidade de um amanhecer...
No meu palco, na minha história, tu és um desses momentos, um dos aplausos que tão bem me fizeram sentir.
Obrigado pela sinceridade, pela amizade, pela partilha...
Todos temos um caminho, caminhos esses que se encontram e se afastam. Que o teu possa ser paralelo ao meu...
Até já