Friday, September 19, 2008

Quietude


Na quietude da noite permito o divagar ao pensamento, amavelmente concedo liberdade à ideia, à suposição, ao sonho, ao receio, à reflexão...
Com essas linhas de cor mutante bordam-se intrincadas tramas da possibilidade, tecem-se artes como que relatos invisuais de um aconchego, de conforto. Em pano cru, por pérola manchado, eis que surgem pontos do refrear da incerteza, do desalento e do desânimo...
Nessa quietude, instantânea paz concedida às horas o meu corpo abranda, a minha mente expande-se. Consigo respirar o alívio do tempo, desfazer-me do peso descrente da dúvida, desprendo-me do desacreditar, venço as grilhetas desse negativismo imperfeito.
Encharcado pelo breu do sossego consigo acreditar nesse tantas vezes egoísta triunfo, nesse véu de bruma ondulante, imortalizado por destino, Graal de cada essência, de cada um... Tão solitário, tão individualista, tão insuportável contentamento...
No sono do tempo, irremediavelmente entorpecido pelo desgaste do ter e querer viver, percebo que perdas e reencontros são cruciais apontamentos da existência, fomento da vontade do alcançar.
Neste silêncio em mim sei que o amanhã chegará, por sol ornamentado ou de chuva decorado certamente será meu, e esperará o meu acordar, o meu adeus ao sonho, a minha despedida à noite...
Na quietude da noite, no limiar da consciência do adormecer, ofereço um agradecimento sem palavras, sem destinatário, sem rumo...

Wednesday, September 17, 2008

Serei Ser?


Conturbado vazio, seco impacto desse soco diferido por mãos de ninguém esmaga ser, pensar, sentir, acreditar...
Incomprensão do agir ou simplesmente não compreender a atitude?
Reflexo da palavra ou espelho da intensão?
Esmagado mensageiro esse a quem são ouvidos discursos da confusão, esse que agoniza pelo veneno da palavra, esse que dá asas a ideais ou ideais, convicções ou crenças, verdades imaginadas ou mentiras esquecidas...
Conseguirei sobreviver neste ataque desprovido de armas mas secretamente armadilhado pela surpresa? Serei herói do inesperado ou subtilmente entregue ao tombo da perda?
Traiçoeiro caminho, esse a que me entreguei confiante, demanda de um reencontrar, história de um compreender, essência de um corpo que me transporta, albergue de uma figura que parece não se encontrar, não se reconhecer...
Serei estampa do acto, continuamente lembrado do que tento esquecer, incesantemente recordado pelo aconteceu?
Por amargas ruelas do ponderar caminho, em becos perdidos carrego pela transparência um esgar forçado, um coexistir determinado pela obrigatoriedade do dever. Não sou bom actor, não consigo usar essa máscara, esse enganoso estar...
Pretendo encontrar o equilíbrio, anseio pelo desfecho possível de um entendimento compreendido pelo abraço da razão...
Assim continuo confuso, perdido, dolorido,esquecido...
Serei ser na minha história?
História sem nome, fragmento do acontecer, instante em que me perco e me reencontro para, impensavelmente, me voltar a perder...
Serei ser?

Friday, September 12, 2008

Silhueta de Si


Por negro vestida, abandona o seu refúgio... Segue perdida, sozinha, esquecida, caminha...
Sombria silhueta de si segue por trilhos esbatidos, percorre irremediavelmente resignada traços de um tempo não apagado, revisita túmulos jamais esquecidos que parecem implorar um olhar, uma atenção... Sopros de um acontecer que não se dissipa, névoas de rebeldia controversa, coro de um choro que não cessa, que não canta, lamenta...
Amarga sombra de tempo, desliza lentamente como que guiada por um sentimento sem nome, como encantada por um chamamento inaudível da hora, do lugar, do momento...
Nesse eterno repouso de alma procura a pedra fria que a atrai, que a arrancou do seu abrigo, do seu domínio, do seu instável acreditar.
Vagueia abstraída, procura sem saber o que encontrar...
Eis que encontra o que procurava sem perceber, o que a encantava sem querer entender...
Na cruz de uma lágrima sente-se desfalecer, a essa laje oferece o seu sangue, vermelho intenso do passado, derrota de uma impossibilidade do esquecer...
Nesse túmulo jamais desaparecido descansa o seu suplício, o seu tormento, o seu pesar...
Nessas palavras se funde, senhora da sombra, senhora sem nome a quem chamaram Memória...
Nesse jardim do para sempre reencontra a sua metade, sono eterno de si, sem vida, sem conteúdo mas eternamente presente...
Senhora esquecida, de negro vestida entrega-se à companhia dessa outra adormecida a quem um dia chamaram... Lembrança.

Wednesday, August 27, 2008

Sete Pecados...








... da minha Existência

Serei avareza do ser por atitudes geradas pela consonância de um pensar com o sentir? Por não gritar aos gestos, palavras e pensamentos que não sejam ambíguos aos olhares de outrem, que sejam espelho explícito de uma névoa que me aconchega?

Serei gula dos sentidos por tentar absorver desse aroma do querer o sabor do conseguir? Poderei alguma vez deliciar-me pelo paladar da certeza, da convicção, da compreensão?

Serei luxúria da crítica por ambicionar diferir, por adorar a audácia do aparecer, por mostrar um eu que sou mas tantas vezes escondo, um eu que sou e tantas vezes não reconheço? Serei eternamente lâmina escorregadia de um vermelho sombrio, quente sangue da atitude?

Serei inveja incalculável por um preciso cálculo do esperado, quente gelo que aquece corpo mas gela alma? Serei imperfeito dador do contraditório, rara inconsciência do confiar?

Serei vaidade infundada de temperamento, esmagadora divergência de humor, inexplicável poção do ser ou não ser? Conseguirei encarcerar vítimas do dizer e demónios do deixar de dizer? Por assombrações do sonho serei para sempre errante tormento do não ser compreendido?

Serei preguiça que me amarra em alegres ódios ocasionais? Serei indigna capela do recolhimento do pecado, serei espírito de aparente paz, solene adeus a um sol que por vezes não brilha?

Serei ira de mim, antítese de uma fortaleza construída por pedra suportada por pena? Conseguirei simplesmente ser apenas alguém imperfeito, alguém que chora e que ri, que cai e se levanta, alguém que erra e aprende, algúem como qualquer um?

Não sei ser de outra forma a não ser como sou...




Wednesday, June 11, 2008

Fragmentos


Por fragmentos de instantes, pedaços de momentos sentidos vou construindo uma teia de lembrança, sopro da saudade, fugacidade desse vento que passa, que leva para longe a intensidade da presença, que arrasta sem permissão a possibilidade, a vivência, reflexo de um sorriso de alma qual espelho de medo, agonia do parecer irreal...
Em águas turvas de pensamento partilho visões do estar sem tempo, do permanecer rodeado por outros seres, outras histórias, outras vidas. Olhares que contemplam, visões carregadas de diferentes significados, de distintas interpretações. Sinto-me desprender das amarras do constrangimento, vou-me libertando do peso do receio, do martírio do tanto pensar quando se torna tão mais fácil simplesmente não pensar, não ponderar apenas sentir...
É nesse significado que me revejo, que retorno depois desse voo distante, dessa ausência de vozes inconscientes, gritos de um ódio infundamentado, choros de espírito esvaziado de conteúdo...
Em fragmentos de momentos fortaleço sensações, descubro forças antes desconhecidas, encontro um porto de abrigo, um refúgio a esse tempo que foge, que não para, que não descansa.
Fortaleza abraçada pela luz de um sol que se despede, esculpida numa madeira esquecida pela chuva, abandonada pela noite, encontrada por mim.
Fragmentos de um eu constante de mudança, agraciado pela possibilidade de ser sentido, enriquecido pelo valor da compreensão, achado inesperado numa noite obsoleta, num sono sem sonhos, sem esperança.
Desenhado por fragmentos de uma saudade constante permaneço inerte nesse acontecer, imóvel ser abraçado pelo saber que nesse refúgio sou completo, sou estrela num céu imenso de pontos de luz, sou um ser não fragmentado mas construído por esses fragmentos dos nossos instantes...
Fragmentos de sorrisos, fragmentos de lágrimas, fragmentos de um ser feliz...

Monday, June 2, 2008

Baile de Lua


"Queria ser digno de suplicar à lua, de implorar às estrelas, à brisa que passeia nesta noite de escuro vestida, dama de um baile ausente, bruma de um sonho aquecido pelo vibrar de um sentimento... Queria ser bruma, ser essência, ser espelho de um ser indescrito por palavras... Queria ser mistério, queria ser vontade, queria ser sopro nesse baile da lua e das estrelas para conseguir, levemente, passar pelo teu rosto e depositar nele um beijo de mim..."

Monday, May 26, 2008

Passagens do tempo...


Abraçando o âmago do meu ser viajo pela alma do sonho...
Nas asas do pensar divago por passagens de tempo, revejo páginas deste livro que se tem escrito por vontade própria, história intrincada de instantes, de momentos, de passagens do tempo...
Num local incerto repouso o espírito, revejo uma essência tantas vezes camuflada pelo conflito da alma, oca a muitos olhares, uma imensidão de ser a olhos cegos de vista mas precisos no olhar...
Visito o meu anjo de pedra, confidente sombra do meu tempo... a ele confio segredos sem palavras, a esse ser inerte dou vida pelo calor da confiança, pela pureza das lágrimas, pela verdade do sorriso...
Devoto acreditar que a possibilidade deambula algures, que o inesperado segundo em que o tempo estanca pode acontecer, permito-me adormecer para viver mais um sonho...
Embalado pelo susurro silencioso da circunstância vislumbro recantos desconhecidos em mim, entrego-me à descoberta de sintonia, à partilha de um ar respirado pela dualidade do ser, à consciência de um vazio não premeditado pela ausência, sacrifico-me ao querer...
Embarquei numa viagem sem rumo mas sei o destino que quero alcançar... Posso não escolher o percurso, posso desconhecer os dissabores desta viagem mas aceito um continuar... acompanhado pela certeza de te ter ao meu lado... adormeço nas passagens do meu tempo.

Tuesday, March 25, 2008

Perdido...


Qual sombra de gente, caminho perdido por becos vazios do ser... Despido de certeza alguma percorro, descalço, trilhos esquecidos por contrariedades propositadas do agir.
Deambulo solitário, abraçado pelo frio de alma, aquecido pelo gelado sabor do remorso...
Sinto-me rodeado por espectros de culpa, ameaçado por dementes lembranças que vão sugando momentos em que um sorriso me aqueceu o espírito, fugazes instantes que estupidamente partilhei com o vento...
Sufoco por palavras que se desprendem do seu significado ao serem proferidas, lágrimas de gelo rasgam-me a pele ao despedirem-se destes olhos turvos pela revolta, pela angústia, pela ausência...
Nessas vielas de portas fechadas distingo vultos que se escondem... Janelas empurradas pela força do desgosto, vidros que se estilhaçam pela brutalidade de uma atitude impensada, farpas que se cravam no meu corpo como memória do meu infortúnio...
Desconheço por onde me desloco, não sei para onde caminho... Sou consumido pela frialdade da revolta, chicoteado por mãos sem corpo, escarnecido por vozes inaudíveis...
Deste tormento não encontro saída, deste suplício não vislumbro refúgio...
Quero desistir, entregar-me a um julgamento da mente, a uma pena conquistada pela fraqueza que me define...
Molha-me esta chuva incessante, refresca-me os sentidos à muito desprovidos de sensação... O clarão de um trovão ausente desperta-me para pensamentos sem conteúdo, parece que se aproxima o fim desta noite, deste purgatório a que me ofereci... Sinto-me tonto, confuso, triste...
Quero acordar deste sonho, quero adormecer desta realidade...


Monday, March 24, 2008

Castelo de Mágoa


Entregue à fraqueza do meu ser, à insignificância do meu agir sinto, agora, a dor do martírio a que me entreguei. Causa impensada, consequência inesperada, mostraram-me certezas desconhecidas, revelaram-me os dissabores de mágoa, de desilusão, de fracasso...
Fui cego... pois não quis ver a intensidade que me rodeava, fui sincero... pois não suportei um agir de outra forma, fui feliz... e empurrei a felicidade para o abismo...
Sinto-me desorientado, seguro de mim, insignificante ser por nada poder fazer para controlar o tempo...
Poder encontrar a essência, alma perdida neste contexto social que nos absorve devia ter fortalecido este conteúdo mas não... deixei-me confundir por juízos de que nada servem, géneros estereotipados que de nada têm de sinceridade.
Defeitos? Tenho os meus... Erros? Quem me dera poder apagá-los do meu caminho...
Valerá a pena embrenhar-me numa batalha em campo desconhecido, poderei redescobrir-me, conseguirei revelar um eu manchado pela atitude, um eu condenado pela instabilidade da dúvida, um eu agora consciente do que penhorei ao entregar-me a lugares sem pensar, ao permitir uma dor quase que premeditada...
A esse olhar entrego a esperança do tempo, a esses instantes lançarei a âncora do meu sentir, à certeza de um proferir em igualdade a um pensar fincarei o meu desejo de te alcançar, de te provar que este sou eu...
Naquele castelo, num olhar de sintonia não consegui observar a beleza da vista contemplada...
Quantas pedras o constroem quantas mágoas guardarei pela tristeza que me invade...

Tuesday, March 11, 2008

Viagem sem Destino


Pela intensidade do pensamento, pelo palpitar de um mortal sentir, pela excitação interior qual criança que recebe um presente, sinto um despertar noutra dimensão, realidade paralela na qual transito sem me aperceber...
Pestanejar de mudança, ventos de norte que me invadem o corpo, me refrescam o ego, me fustigam o ser sussurrando palavras de confiança, de obrigatoriedade em sorrir...
No sabor dos pequenos instantes encontro aromas de um ser feliz, toco em neve inexistente da partilha, perco-me num conto de personagens ideais, estranhos desconhecidos de afinidades loucamente conjugadas...
Longe do mundo... apaga-se o espaço que me envolve quando penso, quando sonho...
Perto de mim... quando sigo nesta viagem sem destino, quando imagino esse campo de verde pintado invadido por odores silvestres da Natureza e admiro... esse olhar, essa presença num sono profundo... Contemplo um rosto inerte, ouço a respiração lenta, relaxada, em plena sintonia com o coração da Mãe de todos... Ao tocar nessa pele estremeço... por poder quebrar a beleza desse quadro... Permaneço então quieto, sem movimentos estranhos às entranhas da Natureza, no canto das aves, da água, dos seres dedico essa melodia a esse instante... a esta viagem de sonho adoçada, a uma imaginação extrapolada para uma realidade desconhecida, distante ou impossível, incertezas de viajante...
Nesta viagem sem destino caminho confiante, viagem sem rumo, pegadas da possibilidade em chegar... a ti.

Monday, March 10, 2008

Acordar...


Debruçado sobre mim, revejo fiapos de momentos, passados ou desejados, memórias de sonho, crenças em sublime idealismo, o acreditar na possibilidade desse tal instante, o mito, o acontecer...
Procurando nada encontro, imóvel nada me toca, não sinto o arrepio causado pela brisa da sensação... Nada procuro por isso, nada encontro neste caminho ao qual me entreguei, corpo e alma conscientes dos dissabores da viagem...
Na escuridão dos meus dias perco-me por pensamentos e, por vezes, sinto que me escutam, me compreendem... Dama negra, anjo da guarda, estranho desconhecido, errante caminhante quem serás tu, nova personagem desta história, de um pensar que me aqueceu o espírito, que revelou na bruma traços de um horizonte perdido nas horas, dissipado dos meus dias pela força e vontade da circunstância...
Num choro sem lágrimas escorrem instantes de pureza idílica, de indescritível vivência contemplada pelo sorrir, do viver um sorriso, uma lágrima, um olhar, uma dor, um amor...
Nos braços desse anjo encontrei o afecto da compreensão, ouvi a melodia da coragem enquanto adormecia entorpecido por pensamentos há muito sequestrados pelos demónios do desânimo...
Sou um sonhador, menino da lua, rapaz da Terra, Homem sem lugar...
Serei sorriso no teu rosto, lágrima no teu pensar, mas sou simplesmente eu...
Na vida há "paragens cardíacas" nas horas, estaladas por mãos de ninguém, instantes de um acordar desta sonolência a que nos entregamos sem nos apercebermos...
Sinto-me acordado, desperto para um novo olhar, consciente das cores do meu horizonte, distante mas visível, concreto, fabulosa divisão do sonho e da realidade...
Alcançarei o horizonte?
Ahh, não sei mas tentarei lá chegar...

Para ti, que queres acordar...

Thursday, March 6, 2008

Dama Negra


Esvoaçando pela brisa da noite, a dama negra hipnotiza olhares perdidos, inebria com o seu perfume mentes atormentadas pelo receio, pelo medo do desconhecido, pela imensidão desse negro abismo que se abriu no meu chão...
Viúva do acreditar, borboleta do incerto, efémera dama da estabilidade... tudo contemplas, absorves, sentes, sofres, sem nada poder fazer, dama do tempo, beleza sem tempo...
No meu ombro pousou a dama da noite, a meu lado partilha o acontecer, voa para longe mas volta, sempre... eu sei!
Pela janela absorvo o poder da noite, a minha dama sobrevoa mágoas e momentos, escuta lamúrios e lamentos, aquece corações esquecidos com o calor da sua beleza, com a força da sua presença...
Voo a seu lado na irrealidade de um pensamento, na incerteza do sentimento, no presságio da transformação...
A Dama da noite partirá, um dia, para não voltar. Senhora da penumbra estará para sempre cravada no meu olhar, ausente em matéria, presente em essência.
Reflexo de mim, em vidro esbatido na janela em que me contemplo, no portal do segredo, do medo, do receio, da dúvida, do não saber em que acreditar...
Já não sei o que pensar, o que esperar, o que recear... dama da noite, surge mais uma vez, contrastando com o reluzente brilho de uma estrela, apenas para me lembrar que a isto se chama viver, é o equilíbrio dos dias, bom e mau, bem e mal, preto e branco... opostos necessários à dinâmica das horas, contratempos aceitáveis que por vezes não o parecem ser...
Obrigado negra senhora, por me lembrares, por não me deixares esquecer que o sorriso é a melhor forma de diminuir a intensidade das adversidades...
Dama da noite, negra viúva do acontecer, senhora do breu, borboleta dos meus sonhos...

Monday, February 11, 2008

Atitude


Inconsistente confiança, certeza dúbia, decisão imcompreendia... atitude forçadamente demonstrada pela necessidade da ocasião, pela dualidade da possibilidade, pela necessidade da concretização...
Acto acertado? Escolha correcta? Irresponsabilidade despretensiosa?
São estes os agradecimentos prestados pela obrigaçao da escolha, são estes os martírios do pensamento causados pela vulnerabilidade de um não saber concreto, por um desconhecer da consequência...
Serão características de personalidade? Será imaturidade de um aprendiz do ser? Será conformidade de um eco incompreendido em si mesmo?
Na atitude espelha-se o reflexo que define o eu, que gera opiniões disformes pela inaceitaçao de um desprendimento pensado saudável, necessário...
Pela atitude estereotipa-se uma maneira de ser, pelo contacto com a decisão confrontam-se discursos aquecidos pelo temperamento próprio, pela partilha forçada do ponto de vista, pelo combate verbalizado do que é pensado, expressado na atitude do momento...
Atitudes... construçoes do ser, demolições de convicção, resconstruções do agir, remodelações do pensar...
Pelas atitudes me demonstro, com as atitude me ergo...


Thursday, January 31, 2008

No Vale dos Lamentos...


No vale dos lamentos escutam-se perdas angustiadas pela insensibilidade social, admiram-se amargamente retratos gastos pela poeira do tempo, valores esquecidos pela ambição de uma coroa de nada valiosa mas de suposta distinção...
Seremos apenas vulto de gente, fugaz temperamento interessado pelo materialismo que nos rodeia, nos ofusca, nos absorve...
No vale dos lamentos vagueiam remorsos, soam sinos da incredulidade interior, cobre-se pelo pó do esquecimento a verdadeira essência do sentir...
Poderei confiar na eternidade de um pensar?
Poderei atraiçoar convicções agora desconhecidas, "nuncas" que, afinal têm-se revelado, de sorriso estampado, ironicamente proferindo "eu soube esperar..."
Por este vale de penumbra, decorado caminho, perplexo existencialismo sem fundamento, em julgamento, procurando O sentimento...
Serei também um desses vultos caminhantes, intrusos pressupostos de uma maneira de ser, esquecida por momentos ou perdida num para sempre...
No vale dos lamentos percebo olhares de tormento, faces enrugadas pelo arrependimento, gestos ténues de incerteza, vultos perdidos, corajosos espectros na procura de um conteúdo guardado em local desconhecido...
No vale dos lamentos caminho... neste espaço de breu esmagado reencontro um eu, surpreso, desconfiado, receoso, descontrolado...
Mas no final compreendo, pelo vale dos lamentos caminho, o mesmo eu, o mesmo conteúdo, o mesmo vulto...

Thursday, January 24, 2008

Sinceridade


Palavra morta de significado, assassinada por mãos inconscientes quais tentáculos expressivos da distorção do raciocínio humano...
Tento compreender de onde provêm a inspiração da mentira, procuro descobrir a infundada razão para justificar a ausência do carácter mas nada encontro...
Serei um ser iludido, envolto pela névoa do querer acreditar que a expressão do pensar poderá corresponder ao significado do pensamento?
Serei apenas demente personagem, ingénua janela do acreditar na procura de um pouco de tranquilidade, de resposta, de conteúdo...
Estarei para sempre de luto por este crime, chorando no seu adeus, culpado por ser também assassino...
Seres humanos que se desprendem da humanidade, seres pensantes que crucificam o pensar, seres que sentem... mas esquecem que os outros também o fazem...
Sinceridade...
Tenho consciência que por condicionalismos da sociedade quase que somos obrigados a apunhalá-la por vezes, forçados a um distorcer do que é real, incitados a preclitantes deturpações da veracidade da existência, do fundamento do acontecimento... Contudo entristece-me a facilidade do contágio deste recurso, intuito de causa esperada, quando se pretende usar a máscara da falsidade...
Não sou melhor que ninguém, não pretendo criticar nem julgar, apenas continuarei a sonhar que, um dia, encontrarei na descendência desse precioso conteúdo, uma retribuição, um reconhecer da pureza do discurso, na despretensão do agradar, na simplicidade do dar a conhecer a face oculta por detrás da máscara, um agir desvinculado de um propósito, um não espezinhar o que se encontra no nosso caminho... Até o mais minúsculo dos seres tem direito à sua expressão...
Sinceridade... sepultada por muitos mas lembrada por outros... se no remorso poderás cravar a tua expressão, na lembrança ganharás coragem para não te dissipares na bruma do tempo...




Tuesday, January 22, 2008

(Des)Acreditar

Não acredito em alma gémea, elemento transportado de narrativas intemporais para o quotidiano social, pela necessidade desse acreditar que tal metade poderá complementar um eu fragmentado, que poderá incorporar um corpo obsoleto de esperança...
Acredito na cumplicidade, na sintonia de um olhar, do palpitar da essência causado por uma palavra sincera, na implosão interior provocada por um sorrir de alma...
Não acredito no amor eterno, imortalização idealizada do momento, mumificação de um querer sentir para sempre, procura da fortaleza eterna da fraqueza do sofrer, do querer purificar a mente da possibilidade de um desaparecer...
Acredito na falsidade intencional da atitude, de conclusão indefinida, de mágoa pressentida, mas como que amada pela possibilidade de um desfecho, qualquer que seja...
Não acredito em ilusões, iludo-me com o tanto querer que pudesse acontecer, mais uma vez, rever um brilhar nesse espelho de mim...
Acredito que sou apenas eu, explosão de conflito, expiação de um tormento incompreendido, concebido na intrincada trama da confusão, perturbado por não saber quem sou...
Não acredito que o amanhã trará a sublime intensidade do inesperado, a agradável surpresa da miragem de um ser feliz, a conquista da realização...
Acredito que na tristeza do olhar nego o sorriso, que num destroçado pensar contradigo a palavra proferida, renego o significado que tanto quero demonstrar...
Desacreditar...
Causa ou consequência da escolha?
Descanso ou fuga à solidão?
Medo ou fraqueza diluídos no turbilhão do conflito?
Acreditar ou não acreditar que, afinal, no amanhã o imprevisto poderá ser personagem da minha tão estilhaçada história?
Desacreditar... mérito conquistado pela atitude.

Muralha


Na muralha das contradições vislumbro o adormecer de mais um dia, contemplo o adeus do sol gritando pela intensidade das suas cores a promessa de um regresso, ferindo o olhar com a beleza da sua despedida...
No peso da história gravada em pedra, muralhas que me cercam, ouvintes devotos, entrego-me inadvertidamente ao suplício do pensar, às interrogações erradamente julgadas escondidas nas fendas dessa cerca de pedra, nessa barreira protectora qual armadura de um eu fragilmente omnipresente...
Contradições do pensar, controvérsias do sentir, contratempos no agir...
Serei aquilo que digo ou direi aquilo que sou?
Procurarei a perfeição ou esconder-me-ei na utopia de uma procura?
Conseguirei pela palavra revelar o intransmissível significado do meu pensar?
Serei reflexo obtuso de um conteúdo transparente, apenas reconhecido por olhos de ninguém?
Poderei encontrar algo que não procuro?
Por contradições me reconheço, numa despedida aquecida por tons de ouro sem valor, mais uma vez constato que não encontro respostas, que não pretendo um esclarecer a este mistério que nada esconde mas tudo me quer desvendar...
Na muralha das minhas contradições assisto a mais um embalar dos sentidos, a um arrefecer das dúvidas, a um sonhar acordado na crença de que não importa o que está no final do caminho, mas sim o que o percurso nos revela...
Muralha do meu ser, refúgio das minhas contradições...

Sunday, January 20, 2008

Fado de mim


Por ruelas de noite vestidas, escuto passos de um corpo deambulante, perdido em convicções já não conhecidas, errante por contradições lançadas ao tempo, quais bolas de sabão sopradas pela inocência de uma criança...
Nessas ruas caminho, absorto por idealismos irreais, hipnotizado pelos poderes do querer, fascinado pela crença do encontrar. Serei racional? Viverei num mundo paralelo em que o sonho pode comandar o amanhã?
Em todos os recantos escuros, becos escondidos nas profundezas do ser, caminho, procurando respostas...
Serei apenas um sonhador?
Pela calçada dessas ruas do tempo, vagueio solitário, em consonância com as vozes que sussurram promessas de um encontro, em instante incerto, com o olhar da certeza...
Em sintonia com o brilho da noite escuto sons de origem não compreendida, choro de uma guitarra tocada por mãos de sentimento...
Sinto-me embalado, extasiado pela incontrolável invasão interior que esta musicalidade tem em mim...
Elevam-se sentidos desconhecidos, apuram-se sensações esquecidas, renascem cinzas de um fogo apagado, escórias da fragilidade imposta como defesa à adversidade, à confrontação...
Nessas cordas dedilhadas por alguém incerto, notas entrelaçam-se numa melodia, tons conjugam-se em sublime harmonia... surge pela voz da alma os primeiros sons deste meu fado, canção do meu destino, voz que me canta, canto da minha voz...
Por ruelas pela noite abraçadas, os meus passos ecoam na ausência da concretização, mas confiantes por acompanhados pelo meu fado, pela melodia de mim, pelo canto do meu ser...

Saturday, January 19, 2008

Moinhos de Vento


Pelos Moinhos de Vento do meu tempo deslizam fiapos do acontecer, pétalas de tristeza perfumadas, estrelas brilhantes de penumbra, sorriso contornado por uma lágrima...
Moinhos de Vento... por eles sopram histórias de vida, instantes tatuados na alma, para sempre cicatrizes na memória...
Por esse pano gasto segredam-se confissões de culpabilidade incalculada, sussurram-se razões de um agir despretensioso, demonstram-se afectos concebidos na subtileza de uma sinceridade contagiante...
Velas de pano perdido, qual sonho fugido por um acordar forçado, qual grito de som vazio, qual inutilidade do ser, aquela que sinto, pelo vento que move o meu Moinho...
Moinho de Vento... lar dos meus receios, abrigo dos meus actos, refúgio dos meus sentidos...
Mó em que me sento, que descanso o peso que carrego no espírito, que lanço ao vento que move estas velas, os meus tormentos... a mágoa por ser apenas um alguém, privado de dom, vazio do poder mudar o acontecer...
Moinhos de Vento... sereis testemunha de uma promessa, não lançada ao vento mas para sempre guardada sob o peso desta pedra em que me sento... Sentirás sempre a minha mão no teu ombro, seja qual for o caminho a seguir, qual escolha a feita por um destino tantas vezes incerto...
Moinhos de Vento... histórias sopradas pelo calor de um confiar...

Sunday, January 13, 2008

É no pensar...

Tamanha pequenez de uma razão que não encontra fundamento, cegueira do momento, invalidez da atitude que não encontra certeza, que caminha por trilhos desconhecidos, incertos, estranhas passagens do meu rumo...
Desconheço quais as vontades dos meus passos, sigo entre ruelas pelas quais não sei se quero seguir. Injustiça de personalidade, fraqueza do querer, incerteza do não querer...
Sou alvo do instante, seta da realidade, frio metálico que me arrepia, chama que poderá incendiar a genuinidade do acontecimento...
Não minto, não finjo, não me escondo pela máscara da falsidade simplesmente não sei...
Conseguirei, mais uma vez, desmoronar a beleza de um castelo de areia, construído na compreensão, edificado na pureza de uma meneira de ser, fortalecido pela fugaz capacidade do retribuir...
Não quero ser pecador por actos não calculados, não quero ser mártir do remorso, não quero ser injusto com o pensar...
É urgente encontrar-me, mas necessito perder-me para prosseguir... Soltar a âncora da recordação, deitar-me num sono de choro pelo erro, sofrer pelas escolhas, pelos finais dos meus teatros, pelas personagens das histórias que me conto, nas quais tanto quero acreditar que chego a nelas habitar...
É no pensamento que encontro todas as respostas, todas as questões, grande parte da energia que me alimenta... É no pensar que me encontro e é no pensar que me perco... É por tanto pensar que nada sei, que de nada tenho certeza...
Queria, por vezes, conseguir não pensar, apenas viver...

Sunday, January 6, 2008

Chove...


Por gotas de um choro de alma perdida, chuva por nome conhecida, escorrem passagens de tempo, escoam lágrimas do acontecer, inevitável aplaudir ao significado do instante, esboço de um sorrir de saudade...
Saudade... invade-me a todo o instante, é lágrima dessa minha chuva que molha, envolve, aquece... É choro da memória, é grito enlouquecido pela magnitude de um não esquecer, é suspiro de âmago que deambula pelos caminhos do recordar...
Sim, sinto saudade... palavra sofrida pela consciência premeditada de passado, do aconteceu, do acabou...
Chove em mim...
Por este retrato do meu eu, pinceladas de uma tinta sem cor, criam a imagem que não se vê em espelhos, que não é focada em fotografia de segundo, que não é visionada por olhos desconhecidos, que não é captada em filme inanimado...
Retrato de mim... vislumbrado na pureza dessa chuva que me inunda, visto por olhos de quem me quer ver, compreender, sentir,,,
Contemplo o meu céu, sinto na cara o suspiro desta chuva, o sussurro do seu segredo, a confissão dos seus tormentos, o tumulto dessas lágrimas que se afirmam sentimentos...
Chove...
Não procuro abrigo, não fujo desta chuva, não receio o fraquejar deste gelado beijo...
Olharei para sempre erguido este meu céu de onde escorrem tais lágrimas do agradecer, choro do sorrir, tristeza do poder nelas encontrar a felicidade...
Nesta chuva fundirei as minhas lágrimas, neste choro sem voz gritarei que não quero ser visto, quero ser sentido, compreendido tal como um poeta da lua sente onde encontrará sempre o seu brilho...
Chove... lágrimas de mim...