Friday, September 19, 2008

Quietude


Na quietude da noite permito o divagar ao pensamento, amavelmente concedo liberdade à ideia, à suposição, ao sonho, ao receio, à reflexão...
Com essas linhas de cor mutante bordam-se intrincadas tramas da possibilidade, tecem-se artes como que relatos invisuais de um aconchego, de conforto. Em pano cru, por pérola manchado, eis que surgem pontos do refrear da incerteza, do desalento e do desânimo...
Nessa quietude, instantânea paz concedida às horas o meu corpo abranda, a minha mente expande-se. Consigo respirar o alívio do tempo, desfazer-me do peso descrente da dúvida, desprendo-me do desacreditar, venço as grilhetas desse negativismo imperfeito.
Encharcado pelo breu do sossego consigo acreditar nesse tantas vezes egoísta triunfo, nesse véu de bruma ondulante, imortalizado por destino, Graal de cada essência, de cada um... Tão solitário, tão individualista, tão insuportável contentamento...
No sono do tempo, irremediavelmente entorpecido pelo desgaste do ter e querer viver, percebo que perdas e reencontros são cruciais apontamentos da existência, fomento da vontade do alcançar.
Neste silêncio em mim sei que o amanhã chegará, por sol ornamentado ou de chuva decorado certamente será meu, e esperará o meu acordar, o meu adeus ao sonho, a minha despedida à noite...
Na quietude da noite, no limiar da consciência do adormecer, ofereço um agradecimento sem palavras, sem destinatário, sem rumo...

2 comments:

AFSC said...

e há mesmo que agradecer. Nem que seja pelo facto de termos a oportunidade não só de viver, como de sonhar.

Abraço.

Blood Tears said...

A dúvida desintegra-se... Vemos com olhos de ver e sentimos as emoções numa perspectiva totalmente nova... A gratidão do momento propaga-se no infinito, e dará frutos...

Blood Kisses