Friday, September 12, 2008

Silhueta de Si


Por negro vestida, abandona o seu refúgio... Segue perdida, sozinha, esquecida, caminha...
Sombria silhueta de si segue por trilhos esbatidos, percorre irremediavelmente resignada traços de um tempo não apagado, revisita túmulos jamais esquecidos que parecem implorar um olhar, uma atenção... Sopros de um acontecer que não se dissipa, névoas de rebeldia controversa, coro de um choro que não cessa, que não canta, lamenta...
Amarga sombra de tempo, desliza lentamente como que guiada por um sentimento sem nome, como encantada por um chamamento inaudível da hora, do lugar, do momento...
Nesse eterno repouso de alma procura a pedra fria que a atrai, que a arrancou do seu abrigo, do seu domínio, do seu instável acreditar.
Vagueia abstraída, procura sem saber o que encontrar...
Eis que encontra o que procurava sem perceber, o que a encantava sem querer entender...
Na cruz de uma lágrima sente-se desfalecer, a essa laje oferece o seu sangue, vermelho intenso do passado, derrota de uma impossibilidade do esquecer...
Nesse túmulo jamais desaparecido descansa o seu suplício, o seu tormento, o seu pesar...
Nessas palavras se funde, senhora da sombra, senhora sem nome a quem chamaram Memória...
Nesse jardim do para sempre reencontra a sua metade, sono eterno de si, sem vida, sem conteúdo mas eternamente presente...
Senhora esquecida, de negro vestida entrega-se à companhia dessa outra adormecida a quem um dia chamaram... Lembrança.

1 comment:

Blood Tears said...

Lembrança sorridente, sombria, és o espelho de quem sou, e porque sou... És a essência da alma...

Maravilhoso...

Blood Kisses