Friday, January 29, 2010

Spade



És...
Limbo do sonho, precipício da realidade, casulo tecido por raros fios de dualidade repartida.
Sou...
Elemento completo pela complementaridade da permanência, da partilha, do afecto.
Somos...
Fusão dos sentidos, bolha forjada pela sinceridade da palavra proferida na noite, calor mental alimentado pelo frio do deambular... em parte nenhuma, em todos os nossos refúgios.
Sinto...
Conspiração da Terra, sacrificada concordância do corpo pela eternidade da alma.
Anseio...
Pela rotação do tempo, que nos aproxima, que fortalece a trama dos nossos sentidos, a inexplicável levitação do estar, o indiscritível esquecimento do mundo que nos devora.
Em ti...
Sou ser despido de materialismo, sou essência pura, sou unicamente o Eu que apenas Tu reconheceste, sem ver, sem perguntar...
Encontrei...
Um ancoradouro onde me permito descansar do medo, onde me sinto protegido do receio, onde me sinto completo.
A ti...
Simplesmente posso dizer... Amo-te.

Friday, January 22, 2010

Esquecidos ( Pré Spectrum )


Numa demanda perdida

Por vultos sem nome

Espectros perfurados rancorosamente

Por agulhas aguçadas pelo desprezo

São seres, são almas, são história

Apagados na presença

Presentes em perpétuo desterro

Formas já indistintas de um ser

Esquecidos de inevitável vivência

Pesados, obscuros, carregados

São rasgos de existência

Carne apodrecida e putrefacta

Indigentes malígonos

Alucinações não sonhadas

Mas sentidas...

Espectros quem somos...

Nervos emaranhados de percepção

Incompreendidos, carrascos da normalidade

Podridão alheada de voz

Espectros...

Revelações de uma brutalidade escondida

Tão completa, tão pura

Vagabundos sem destino conhecido

Criaturas que sabem acreditar...

Sunday, January 17, 2010

Surrealismo Sentido


Vasculho nos despojos da minha matéria retratos da composição austéra que me projecta ao mundo... Procuro, em desespero, encontrar entre restos de ideais, crenças inacreditadas de um surrealismo sentido, agora, tão intensamente...
Sou elemento desmembrado, figura mutilada pelo espaço, visionário inseguro de uma possibilidade de reencontro...
Sou personificação do receio, sou estupidamente um eco de nadas no ocaso, sou fugacidade férrea de confiança, sou tentativa...
Compreendo, lentamente, que fui presença dispersa nos dias do juizo antecedente.
Grito...
Por palavras arranhadas a sangue, desta garganta dorida de tanto querer expelir discursos que não se desintegram do papel esquecido em que são escritos...
Ouço um tilintar que me persegue... são elos ferrugentos da corrente que cruelmente me mantém prisioneiro cerebral...
Quebram-se... em câmara lenta...
Sinto-me mais leve... a cada dia, a cada hora...
Grito...
Inaudível apelo de um som de desespero, emerge das cinzas uma Súplica sentida, uma vontade desejada, uma fusão de corpos que já não sabem ser ímpares...
É neste cenário que imortalizei esta imagem, este retrato que aqui deixo de Um Surrealismo Sentido...

Tuesday, January 12, 2010

Letal


Hoje...
Peguei num punhal forjado nas trevas da consciência, fortaleci a convicção da vontade...
Fechei os olhos... lentamente, pesadamente...
Bebi pelo draculiano cálice da incapacidade mental... Pela minha face escorre a ganância de divagar nos sentidos, esquecer a inércia do pensar, imortalizar a súplica do poder acontecer...
Descomprimi o corpo... ferro e pedra fundidos em estátua de gente...
Adormeci a fome do receio, na mortalha da angústia depositei a saudade do tempo, de terra e gelo enterrei a graciosidade da lembraça... Nesse pálido adeus doei um beijo de alma, em sangue selei essa história, na lápide gravei intemporalmente um sorriso...
Sepultura do nada, para sempre anjo de pedra, este eu que sobrevive...
Respirei... senti o rasgar do corpo pela lâmina fria, sinto o impacto da vida, jorrando impulsivamente de mim...
Deito-me lentamente sobre o medo do adormecer, o indesejado augúrio do acordar. Jaz a meu lado o punhal que esventrou a essência, que reacendeu a fria chama da tranquiilidade...
Sinto o meu corpo a ser consumido, decomposto por metamorfoses errantes, atraídas pelo suor do renascer...
Ergo-me fortalecido... Revejo-me num espelho quebrado pela gravidade...
Reencontro-me...
Reconheço os sinais que me absorvem, estendo a mão a essa garra que me cravou o peito, iluminou o coração, arrancou uma lágrima de conssentimento, me entregou uma rosa negra de aliança...
Pactuo com esse espírito para um novo trilho de possibilidade, caminho sombriamente feliz, veneno letal que anseio saborear...


Sunday, January 10, 2010

Penumbra do Silêncio


Vagueando pelo sopro da noite sinto-me perseguido por um susurro que me amarra as sensações... Algo me persegue na penumbra do silêncio, um vulto por nevoeiro delineado apoderou-se da minha sombra e caminha, agora, a meu lado...
Não sei se quero ter medo e fugir, sinto-me desprotegido, sem defesas... Vagueio.
Sinto a sua presença, constante, intensa, intemporal...
Consigo sentir um olhar aparentemente vazio, translúcido, uma janela de alma esquecida pelo peso do acontecer... Um coração que tenta bater tão levemente para não ser ouvido, para existir sem ser compreendido...
Caminho lentamente porque sinto que não quero fugir, recuso o caminho mais fácil, algo me prende, me enlaça o pensamento, me quebra a defesa duramente tecida por frágeis fragmentos da existência.
Eis que se rasga um sorriso da escuridão, e aí encontro veracidades desse ser que me acompanha pela gélida noite do presente.
Tudo se transforma, vislumbro por outro olhar esse eco de vida... afinal não é sombra de ser, não é perseguidor perseguido, não é fantasma da palavra, não é demónio sem medo...
Descubro sem nada fazer que é um reflexo à muito aguardado, espelho de mim, percepção de uma essência que afinal sempre existiu, mesmo que quase esquecida não se diluiu pela atitude.
Páro...
Frente a frente, essa presença assume o contorno que tanto tenta proteger. Vejo traços, esboço de um todo ainda desconhecido mas que define um conteúdo que me contempla e do qual não consigo desprender-me...
Num diálogo sem sons apenas se escutam os uivos do tempo que não pára... e o pulsar dos sentimentos. Não são precisas palavras, gestos, sinais... Numa estranha sintonia nasce uma compreensão muda... forte...verdadeira.
Nesse sorriso encontro um abrigo.
Na noite permaneço imóvel, nao quero acordar se for sonho... Quero sentir...


Ps: Dark