Tuesday, March 25, 2008

Perdido...


Qual sombra de gente, caminho perdido por becos vazios do ser... Despido de certeza alguma percorro, descalço, trilhos esquecidos por contrariedades propositadas do agir.
Deambulo solitário, abraçado pelo frio de alma, aquecido pelo gelado sabor do remorso...
Sinto-me rodeado por espectros de culpa, ameaçado por dementes lembranças que vão sugando momentos em que um sorriso me aqueceu o espírito, fugazes instantes que estupidamente partilhei com o vento...
Sufoco por palavras que se desprendem do seu significado ao serem proferidas, lágrimas de gelo rasgam-me a pele ao despedirem-se destes olhos turvos pela revolta, pela angústia, pela ausência...
Nessas vielas de portas fechadas distingo vultos que se escondem... Janelas empurradas pela força do desgosto, vidros que se estilhaçam pela brutalidade de uma atitude impensada, farpas que se cravam no meu corpo como memória do meu infortúnio...
Desconheço por onde me desloco, não sei para onde caminho... Sou consumido pela frialdade da revolta, chicoteado por mãos sem corpo, escarnecido por vozes inaudíveis...
Deste tormento não encontro saída, deste suplício não vislumbro refúgio...
Quero desistir, entregar-me a um julgamento da mente, a uma pena conquistada pela fraqueza que me define...
Molha-me esta chuva incessante, refresca-me os sentidos à muito desprovidos de sensação... O clarão de um trovão ausente desperta-me para pensamentos sem conteúdo, parece que se aproxima o fim desta noite, deste purgatório a que me ofereci... Sinto-me tonto, confuso, triste...
Quero acordar deste sonho, quero adormecer desta realidade...


Monday, March 24, 2008

Castelo de Mágoa


Entregue à fraqueza do meu ser, à insignificância do meu agir sinto, agora, a dor do martírio a que me entreguei. Causa impensada, consequência inesperada, mostraram-me certezas desconhecidas, revelaram-me os dissabores de mágoa, de desilusão, de fracasso...
Fui cego... pois não quis ver a intensidade que me rodeava, fui sincero... pois não suportei um agir de outra forma, fui feliz... e empurrei a felicidade para o abismo...
Sinto-me desorientado, seguro de mim, insignificante ser por nada poder fazer para controlar o tempo...
Poder encontrar a essência, alma perdida neste contexto social que nos absorve devia ter fortalecido este conteúdo mas não... deixei-me confundir por juízos de que nada servem, géneros estereotipados que de nada têm de sinceridade.
Defeitos? Tenho os meus... Erros? Quem me dera poder apagá-los do meu caminho...
Valerá a pena embrenhar-me numa batalha em campo desconhecido, poderei redescobrir-me, conseguirei revelar um eu manchado pela atitude, um eu condenado pela instabilidade da dúvida, um eu agora consciente do que penhorei ao entregar-me a lugares sem pensar, ao permitir uma dor quase que premeditada...
A esse olhar entrego a esperança do tempo, a esses instantes lançarei a âncora do meu sentir, à certeza de um proferir em igualdade a um pensar fincarei o meu desejo de te alcançar, de te provar que este sou eu...
Naquele castelo, num olhar de sintonia não consegui observar a beleza da vista contemplada...
Quantas pedras o constroem quantas mágoas guardarei pela tristeza que me invade...

Tuesday, March 11, 2008

Viagem sem Destino


Pela intensidade do pensamento, pelo palpitar de um mortal sentir, pela excitação interior qual criança que recebe um presente, sinto um despertar noutra dimensão, realidade paralela na qual transito sem me aperceber...
Pestanejar de mudança, ventos de norte que me invadem o corpo, me refrescam o ego, me fustigam o ser sussurrando palavras de confiança, de obrigatoriedade em sorrir...
No sabor dos pequenos instantes encontro aromas de um ser feliz, toco em neve inexistente da partilha, perco-me num conto de personagens ideais, estranhos desconhecidos de afinidades loucamente conjugadas...
Longe do mundo... apaga-se o espaço que me envolve quando penso, quando sonho...
Perto de mim... quando sigo nesta viagem sem destino, quando imagino esse campo de verde pintado invadido por odores silvestres da Natureza e admiro... esse olhar, essa presença num sono profundo... Contemplo um rosto inerte, ouço a respiração lenta, relaxada, em plena sintonia com o coração da Mãe de todos... Ao tocar nessa pele estremeço... por poder quebrar a beleza desse quadro... Permaneço então quieto, sem movimentos estranhos às entranhas da Natureza, no canto das aves, da água, dos seres dedico essa melodia a esse instante... a esta viagem de sonho adoçada, a uma imaginação extrapolada para uma realidade desconhecida, distante ou impossível, incertezas de viajante...
Nesta viagem sem destino caminho confiante, viagem sem rumo, pegadas da possibilidade em chegar... a ti.

Monday, March 10, 2008

Acordar...


Debruçado sobre mim, revejo fiapos de momentos, passados ou desejados, memórias de sonho, crenças em sublime idealismo, o acreditar na possibilidade desse tal instante, o mito, o acontecer...
Procurando nada encontro, imóvel nada me toca, não sinto o arrepio causado pela brisa da sensação... Nada procuro por isso, nada encontro neste caminho ao qual me entreguei, corpo e alma conscientes dos dissabores da viagem...
Na escuridão dos meus dias perco-me por pensamentos e, por vezes, sinto que me escutam, me compreendem... Dama negra, anjo da guarda, estranho desconhecido, errante caminhante quem serás tu, nova personagem desta história, de um pensar que me aqueceu o espírito, que revelou na bruma traços de um horizonte perdido nas horas, dissipado dos meus dias pela força e vontade da circunstância...
Num choro sem lágrimas escorrem instantes de pureza idílica, de indescritível vivência contemplada pelo sorrir, do viver um sorriso, uma lágrima, um olhar, uma dor, um amor...
Nos braços desse anjo encontrei o afecto da compreensão, ouvi a melodia da coragem enquanto adormecia entorpecido por pensamentos há muito sequestrados pelos demónios do desânimo...
Sou um sonhador, menino da lua, rapaz da Terra, Homem sem lugar...
Serei sorriso no teu rosto, lágrima no teu pensar, mas sou simplesmente eu...
Na vida há "paragens cardíacas" nas horas, estaladas por mãos de ninguém, instantes de um acordar desta sonolência a que nos entregamos sem nos apercebermos...
Sinto-me acordado, desperto para um novo olhar, consciente das cores do meu horizonte, distante mas visível, concreto, fabulosa divisão do sonho e da realidade...
Alcançarei o horizonte?
Ahh, não sei mas tentarei lá chegar...

Para ti, que queres acordar...

Thursday, March 6, 2008

Dama Negra


Esvoaçando pela brisa da noite, a dama negra hipnotiza olhares perdidos, inebria com o seu perfume mentes atormentadas pelo receio, pelo medo do desconhecido, pela imensidão desse negro abismo que se abriu no meu chão...
Viúva do acreditar, borboleta do incerto, efémera dama da estabilidade... tudo contemplas, absorves, sentes, sofres, sem nada poder fazer, dama do tempo, beleza sem tempo...
No meu ombro pousou a dama da noite, a meu lado partilha o acontecer, voa para longe mas volta, sempre... eu sei!
Pela janela absorvo o poder da noite, a minha dama sobrevoa mágoas e momentos, escuta lamúrios e lamentos, aquece corações esquecidos com o calor da sua beleza, com a força da sua presença...
Voo a seu lado na irrealidade de um pensamento, na incerteza do sentimento, no presságio da transformação...
A Dama da noite partirá, um dia, para não voltar. Senhora da penumbra estará para sempre cravada no meu olhar, ausente em matéria, presente em essência.
Reflexo de mim, em vidro esbatido na janela em que me contemplo, no portal do segredo, do medo, do receio, da dúvida, do não saber em que acreditar...
Já não sei o que pensar, o que esperar, o que recear... dama da noite, surge mais uma vez, contrastando com o reluzente brilho de uma estrela, apenas para me lembrar que a isto se chama viver, é o equilíbrio dos dias, bom e mau, bem e mal, preto e branco... opostos necessários à dinâmica das horas, contratempos aceitáveis que por vezes não o parecem ser...
Obrigado negra senhora, por me lembrares, por não me deixares esquecer que o sorriso é a melhor forma de diminuir a intensidade das adversidades...
Dama da noite, negra viúva do acontecer, senhora do breu, borboleta dos meus sonhos...