Monday, June 18, 2007

Marioneta


Pesados olhares, movimentos inertes de consciência...
De olhar fixo no vazio a marioneta contempla, escuta, não fala, grita... Linguagem da dor, da angústia, das horas que passam, tão lentamente...
De compleição curva a marioneta desliza, arrasta-se, reclama, ofende...
Triste condição, boneca em fios suspensa, um entendimento distante, resignada compreensão incompreendida...
Marioneta de triste sorriso na face, outrora tão confiante, tão presente, tão diferente...
Pêndulo suspenso desses fios que a sustentam já tão gastos, emaranhados por nós de uma vida, de um percurso.
Marioneta, agora empurrada por mãos doutrem, por pés artificiais que rodam... auxílio de um metal não precioso que a transporta...
Boneca de trapos vestida, impaciente, desconfiada, descontente.
Mais uma marioneta de colecção... boneco quebrado pelo tempo, porcelana estalada por contrariedades, soldadinho de cor perdida pela intempérie do pensamento. Tantos brinquedos gastos, partidos, por alguns esquecidos...
Todos eles compõem esta colecção, este museu de circunstância.
A marioneta... olho para ela, foge-me uma lágrima...
Apenas mais uma boneca, não esquecida mas sem a graciosidade de outrora, a independência tão querida, os movimentos livres...
Não te faltarão mãos para te manterem de pé querida marioneta, cansadas, tristes, inconformadas mas não te largarão...
És peça desse museu antigo mas ficarás por perto, recordação do passado, marioneta enrugada...
Que estes bonecos brilhem sempre, que a quem proporcionaram tantos bons momentos lembrem que precisam agora que os iluminem, que os protejam, os confortem...
Marionetas, bonecas de trapos, soldadinhos de chumbo, bonecas de porcelana, cavalinhos de pau... Em tempos alegria de criança agora crianças de rugas...