Tuesday, January 22, 2008

Muralha


Na muralha das contradições vislumbro o adormecer de mais um dia, contemplo o adeus do sol gritando pela intensidade das suas cores a promessa de um regresso, ferindo o olhar com a beleza da sua despedida...
No peso da história gravada em pedra, muralhas que me cercam, ouvintes devotos, entrego-me inadvertidamente ao suplício do pensar, às interrogações erradamente julgadas escondidas nas fendas dessa cerca de pedra, nessa barreira protectora qual armadura de um eu fragilmente omnipresente...
Contradições do pensar, controvérsias do sentir, contratempos no agir...
Serei aquilo que digo ou direi aquilo que sou?
Procurarei a perfeição ou esconder-me-ei na utopia de uma procura?
Conseguirei pela palavra revelar o intransmissível significado do meu pensar?
Serei reflexo obtuso de um conteúdo transparente, apenas reconhecido por olhos de ninguém?
Poderei encontrar algo que não procuro?
Por contradições me reconheço, numa despedida aquecida por tons de ouro sem valor, mais uma vez constato que não encontro respostas, que não pretendo um esclarecer a este mistério que nada esconde mas tudo me quer desvendar...
Na muralha das minhas contradições assisto a mais um embalar dos sentidos, a um arrefecer das dúvidas, a um sonhar acordado na crença de que não importa o que está no final do caminho, mas sim o que o percurso nos revela...
Muralha do meu ser, refúgio das minhas contradições...

No comments: