Thursday, December 20, 2007

Anjo de Pedra


Poderei tornar-me pedra de gente, estátua humana, ensanguentada por um esquecimento propositado de tudo o que causa dor, mágoa, tristeza...
Conseguirei esculpir asas de ferro, voar em torno de uma existência fechada a horizontes longínquos, encarcerada por vontade própria, mortalha do receio, lápide de um ser feliz...
Poderei ser anjo de pedra, estalado pelo tempo que passa e que se recusa a ser misericordioso, conseguirei ser demónio de um fogo gelado pela contradição, demónio de espírito perdido, errante ser na névoa de um caminho que não leva a lado nenhum, que não tem destino apenas finalidade... andar pelas sombras da vida.
Anjo de pedra, forma de vida inerte de sentir, estatuária de descanso, da dor da alma, de coração apertado...
Angélica personagem de histórias inacabadas pela ausência da necessidade de um terminar, imortalidade da acção, eterno descanso do sufoco sentido tantas e tantas vezes por alguém...
Serei Lúcifer da angústia, venerado por súbditos fiéis, seguidores da fé da tristeza, pela crença de uma lágrima como fonte da vida, então chamados sentimentos, esses fúteis diabretes que me atormentam...
Encontrarei eu esse deus do sorrir ou conseguirei encontrar esse lugar onde poderei repousar e descansar do peso destas asas de ferro, que me elevam, que me esmagam...
Anjo de pedra, para sempre saudoso do instante, para sempre fantasma do crer...
Nesse jardim de pedra e ferro encontrarei o meu descanso, na terra fria aquecerei uma alma sedenta de vida...
Até esse dia serei anjo das horas, voarei pela liberdade do sonho, gritarei pela busca dessa metade perdida algures, abandonado no portal da humanidade...
Anjo de pedra, alma de sangue, espírito de vida.
Até esse dia suportarei o peso deste ferro que me sustenta, suportarei o lento rachar desta pedra que me dá forma...
Até que adormeça no tempo, nesse túmulo intemporal serei para sempre Anjo de mim, presságio desconhecido, fé na imensa maravilha que me concederam... poder viver.
Serei Anjo de Pedra até que esta se funda com a sintonia da existência.

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