Thursday, May 17, 2007

Murmúrios



Pedra fria em que assentam os meus dias, infindáveis caminhos pelos quais deslizam as rodas do meu impulso...
Linha-férrea de paciência, vagão carregado de um vazio que me consome, ocupado pelo todo que me preenche, pela imensidão de um sentir... Círio que me cega, luz que me acompanha, percurso de vida, escuridão que me encontra...
Crucifixo de mim, fogo gelado de um temperamento convicto, embora instável, desta certeza fortalecida pela consistência do mármore, a preciosidade de uma esmeralda, a falsidade de um para sempre...
Procura de ordem, impulso que me esmaga, certeza de nada saber...
Mergulho no vazio, queda no esquecimento contemplado por olhos cor de nada, envolto pelo eco de um grito ao vento...
Voz de uma palavra, canção de um desespero, murmúrio de uma vaga épica, de um presságio que não acontece...
Frialdade que me gela os ossos, que enfraquece os pilares que sustentam o meu acreditar, abraço de um corpo inerte no tempo, qual sonho esquecido pelo acordar...
Adeus de um erro inequívoco, de um falhar convicto de certeza, de uma culpa sentida de um acreditar fiel. Embriaguez de um veneno desconhecido, sem antídoto, sem o especular de uma esperança...
Manhã aquecida pelo nevoeiro colorido por cor incerta, desenhada por mãos trémulas, tão débeis, tão precisas...
Farol numa noite sem luar, de uma chuva que não molha, de um frio que já não se sente...
Murmúrios perdidos, sussurros desta voz que fala por mim...

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