Thursday, August 27, 2009

Pedaços...


Num pedaço de papel queimado, esquecido num canto da existência, tento desenhar frases de um vazio incompreendido, forma de estar pensadamente esquecida, ilusão perfeita da descrença, da plenitude da perda, do vazio da ausência, da esmagadora consciência da mudança...
Num pedaço de seda rasgada, derrota de um preciosismo outrora delcarado, envolvo contradições pesadamente esmagadas, realidades arranhadas por intenção. Nesse manto sigiloso guardo magoadas formas de sorrir, feridas que se recusam a sangrar...
Num pedaço de ferro enferrujado cravo insanidades despropositadas, acorrento tormentos dúbios, ambiguidades da definição, contradições expelidas por convulsões de temperamento...
Num pedaço de tempo revoltado, misturo ódios mesquinhos a instantes quase arruinados pela gravidade, pela magnitude da palavra, da atitude, do gesto...
Num pedaço de espelho partido encaro fragmentos de uma esperança enterrada sob a promessa fatídica do acreditar...
Num pedaço de terra ressequida, num pedaço de mar opulento, num pedaço de vontade abandonada reencontro pedaços de mim, reflexos desfigurados pela metamorfose.

Wednesday, August 26, 2009

Relatos de mim...


Escuto...
Pensamentos em surdina que atabalhoadamente se entregam a movimentos de graciosidade incomparável...
Penso...
Em palavras proferidas por uma alma que canta instantes à memória, que afagam dulcíssimas loucuras de sintonia, amargor que me turva os olhos arrancando corajosamente lágrimas, sorrisos, quais punhais de fuga proibida...
Relembro...
Frases não proferidas pela inconveniência do conflito, lugares estanques pelo peso do seu significado, santuários preservados pela sensibilidade de um passado inesquecido...
Sinto...
Uma batalha de contracensos, num derrame imparável de dor, aguda forma de estar, alegria, charmosa instância do acontecer, perda, de uma vontade escondida das suas motivações...
Naufrago...
Como que sinto um esvair da força que me impulsiona neste caminho que à muito me acreditei...
Perco-me...
Revejo fragmentos de um reflexo outrora forjado, adormecido, inconsciente, mutável, inconstante...
Perco-me ou encontro-me?
Se ao menos essas sombras abandonassem os meus sonhos...
Quem serão?
Inconformadamente não consigo deixar de as reconhecer...

Monday, August 24, 2009

Quem Serão?


São garras traiçoeiras, são divinas encapuçadas que vagueiam como sombras invisíveis, presságios velados de perseguição, de fuga, de medo...
Quem serão? Damas da bruma, espectros sem rosto que não se deixam vislumbrar, fugazes devaneios sem corpo, sem conteúdo, sem nome...
Serão senhoras do breu, presenças descrentes de uma fé não conhecida, corações enegrecidos por uma peste inerte ao tempo, à devoção, à súplica...
Serão princesas de contos inacabados, sem um final feliz, sem um final sequer... Realeza apodrecida por sólidas convicções do não compreender, do permanecer inconsciente ao espaço que me abraça, me aconchega e me consome.
Quem serão? Órfãs esquecidas por um mundo imperfeito, filhas das horas, incessantemente negadas e renegadas por vozes roucas, gritos rasgados, sonhos estilhaçados...
Quem serão?
Nesta dúvida permaneco, entrego-me a um sono de pensamento.
Durmo...
Sonho...
E nesse inconsciente quase esquecido revejo esses olhares frios que me fixam e se me revelam... Sou obrigado a fitá-las, a reconhecê-las, a sentir o vermelho gelo que me corre nas veias, sem compreender se ainda vivo ou ja há muito me tornei um reflexo de mim...
Acordo...
De nada me lembro...